O Contentamento Puro - Ramana
Pergunta: Qual é o melhor caminho para matar o Ego?
Bhagavan Ramana: Para cada pessoa o melhor caminho é aquele que parece mais fácil ou que atraia mais. Todos os caminhos são igualmente bons, pois levam ao mesmo objetivo, que é a fusão do Ego no Ser (Self). O que o devoto (bhakta) chama de rendição, aquele que faz vichara (investigação de si) chama de Jnana (conhecimento). Ambos estão apenas tentando levar o Ego de volta para a fonte da qual ele surgiu e fazê-lo fundir-se ali.
Pergunta: A graça não pode acelerar tal competência num buscador?
Bhagavan Ramana: Deixe isso para Deus. Renda-se sem reservas. Uma das duas coisas precisa ser feita. Ou se renda porque você admite a sua nulidade e inabilidade e requeira que uma força superior lhe ajude, ou investigue a causa da miséria indo para a fonte e se funda
dentro do Ser.
Pergunta: É bom amar a Deus, não é? Então por que não seguir o caminho do amor?
Bhagavan Ramana: Quem disse que você não poderia segui-lo? Você pode fazer isso. Mas quando você fala de amor, há dualidade. Não existe a pessoa que ama e a entidade chamada Deus que é amada? O indivíduo não está aparte de Deus. Assim, amor significa que a pessoa tem amor pelo próprio Ser (Self) dela.
Pergunta: É por isso que estou lhe perguntando se Deus poderia ser adorado através do caminho do amor.
Bhagavam Ramana: Isso é exatamente o que eu tenho falado. O próprio amor é a forma verdadeira de Deus. Se ao dizer: 'eu não amo isso, eu não amo aquilo', você rejeita todas as coisas, aquilo que sobra é swarupa (Ser real), essa é a real forma do Ser. Ela é contentamento puro. Chame-o de bênção pura, Deus, Atma, ou do que você quiser. Isso é devoção, isso é realização e é tudo.
Portanto, se você rejeita tudo, o que permanece é o Ser apenas. Esse é o amor real. Aquele que conhece o segredo desse amor descobre o próprio mundo cheio de amor-universal.
Apenas a experiência de não esquecer a consciência é o estado de devoção (bhakti), experiência que consiste no relacionamento do amor real imperecível, pois o conhecimento real do Ser, que brilha como a própria bênção suprema indivisível, revela-se como sendo a natureza do amor.
Apenas quando a pessoa conhecer a verdade do amor, o qual é a verdadeira natureza do Ser, o nó emaranhado da vida será desatado. Apenas se a pessoa atingir as alturas do amor a liberação será atingida. Tal é o coração de todas as religiões. A experiência do Ser (o si mesmo real) é só amor, que está vendo apenas amor, escutando apenas amor, sentindo apenas amor, saboreando apenas amor, cheirando apenas amor, o qual é bênção.
O estado puro de estar apegado à graça (ao Ser), que é desprovida de qualquer apego, é o próprio estado de silêncio da pessoa, que é sem qualquer outra coisa. Saiba que o silencio - aquele desempenho da incessante adoração verdadeira e natural, na qual a mente é estabelecida submissivamente como o Ser uno, tendo instalado o Senhor no trono do coração - é a melhor de todas as formas de adoração. O maligno esquecimento do Ser, que nos faz cair daquele silêncio, é a não-devoção (vibhakti). Saiba que permanecer como aquele silêncio onde a mente retrocede ficando não-diferente do Ser, é a verdade de Shiva Bhakti (devoção a Deus).
Quando a pessoa rendeu-se completamente aos pés de Shiva, assim tornando-se da natureza do Ser, a paz abundante que resulta - na qual não há nem mesmo o menor espaço no Coração para a pessoa fazer nenhuma reclamação sobre seus defeitos e deficiências - é somente a natureza da devoção suprema. Dessa forma, a pessoa torna-se escrava de seu Senhor, e ficar quieta e silenciosa, sem nem mesmo o pensamento egoísta 'eu sou Seu escravo', significa permanecer no Ser, e esse é o conhecimento supremo.
Pergunta: Sri Bhagavatan delineia um caminho para encontrar Krishna no coração, ao nos prostrarmos perante todos e olharmos todos como sendo o próprio Senhor. Esse é um caminho que conduz à Realização? Não é mais fácil adorar Bhagavan não importando o que surgir na mente, do que buscar o que está além da mente através da inquirição mental 'quem sou eu'?
Bhagavan Ramana: Sim, quando você vê Deus em tudo, você pensa em Deus ou não? Certamente você tem de pensar em Deus se você quer ver Deus por toda sua volta. Manter Deus na sua mente dessa maneira se torna meditação (dhyana) e meditação é o estágio antes da Realização. A Realização só pode ser do Ser e no Ser (Self-o si mesmo real). Ela nunca pode ser aparte do Ser. Meditação deve preceder a Realização, mas se você faz meditação em Deus ou no Ser não faz diferença, pois o objetivo é o mesmo. De qualquer maneira, você não pode escapar do Ser. Você quer ver Deus em tudo, mas não em si mesmo? Se tudo é Deus, você não está incluído nesse tudo? Sendo Deus você mesmo, é uma admiração que tudo seja Deus? Esse é o método que foi aconselhado no Sri Bhagavatan, e em outros lugares por outros. Mas mesmo para essa prática, tem de haver o sujeito que vê e o que pensa. Quem é ele?
Pergunta: Como ver Deus que está permeando tudo?
Bhagavan Raman: Ver Deus é ser Deus. Não existe o 'tudo' aparte de Deus para ele permear. Apenas Ele existe.
Pergunta: O devoto (bhakta) requer um Deus para o qual ele possa fazer a devoção (bhakti). Ele deve ser ensinado que só existe o Ser, e não um adorador e o Adorado?
Bhagavan Ramana: É claro, Deus é necessário para a prática espiritual (sadhana). Mas mesmo no caminho da devoção, o fim do Sadhana é atingido apenas após a completa rendição. O que isso significa, exceto que o apagamento do ego resulta no Ser ficando como ele sempre foi? Em qualquer caminho que for escolhido, o 'eu' é inescapável, o 'eu' que realiza ações altruístas (nishkama karma), o 'eu' que anseia por se unir com o Senhor do qual ele sente estar separado, o 'eu' que sente que afastou-se da sua natureza real, e assim por diante. A fonte desse 'eu' precisa ser descoberta. Então todas as questões serão resolvidas.
Este caminho (atenção ao 'eu'/investigação de si) é o caminho direto; todos os outros são caminhos indiretos. O primeiro conduz ao Ser, os outros para outros lugares. E mesmo se os outros chegarem ao Ser é apenas porque no fim levaram ao primeiro caminho, o qual finalmente conduz todos os outros ao objetivo. Portanto, no fim, o aspirante deve adotar o primeiro caminho. Por que não fazer isso agora? Por que perder tempo?
Ramana Maharshi em Satsang
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