Não-dual

           


"Não-dualidade simplesmente significa: Não-dois. 
É uma palavra que aponta a não-existência de qualquer separação."
(Jeff Foster)
"Tudo que existe tem origem em uma Pura Potencialidade... 

Esta Potencialidade pode ser chamada de Fonte da Vida, Deus, Suprema Inteligência, Vazio Infinito, Potencial Criativo...
Esta origem de tudo que existe, de todos os universos, de todos os estados de consciência, de toda a criação e vida não conhece espaço ou tempo, não conhece conflito, nem evolução ou involução, pois não há nenhuma dualidade nisto.
Esta unicidade é inconsciente de si mesma e cria a partir dela a consciência para se tornar consciente de Si.

A consciência pura é a filha desta potencialidade.
Com o seu aparecimento, a unicidade aparentemente toma dois aspectos: espiritual e material.
A consciência pura, portanto, é o movimento da Unicidade.
Este movimento da Unicidade nós chamaremos de Dualidade.

Porque Dualidade? Porque aquilo que era uno, que era inconsciente de Si, agora passa a tomar consciência de Si, com o nascimento da consciência.
Deus começa a conhecer Ele mesmo.
E como ocorre este processo de conhecimento?
Para haver conhecimento é preciso que o UNO se divida em dois aspectos distintos e complementares: o conhecedor e aquilo que é conhecido. É preciso que haja um sujeito e um objeto.
Então há o nascimento do corpo para que a consciência possa operar.


O conhecedor é consciência, e o conhecido é o mundo.
O conhecedor é sempre espírito, consciência pura, enquanto que o que acontece como energia em movimento (vida) é na verdade a parte material desta consciência, fazendo parte seu corpo e sua mente desta parte material. EU SOU é espírito consciente, e o mundo é parte de mim, parte dessa consciência material.
O que EU SOU é invisível.

Enquanto o mundo e meu corpo físico (que faz parte do mundo) é visível.
Consciência, portanto, é formada por estes dois aspectos: invisível e visível, yin e yang, feminino e masculino, negativo e positivo, o desconhecido e o conhecido, o Pai e o Filho.

O paraíso é relembrar quem você é.
O alinhamento corpo/mente/consciência como unos e inseparáveis do que você é em realidade, revela o paraíso. Consciência universal é a origem do que somos no mundo manifesto, e ela representa toda a existência. Consciência individual é a aparência que tomamos como um corpo físico, e representa o ego/mente.

A pergunta QUEM SOU EU? é apenas um artifício para levar a mente de volta para sua origem silenciosa. A mente é pensamento. De onde vem o pensamento?
Veja por si mesmo que todo o pensamento surge na consciência.
E quem é você mesmo agora? Consciência pura. Sem pensamentos você continua existindo.
Como? Como consciência pura.
Quando você se identifica com um pensamento tipo “Eu sou imperfeito”, cria uma sub-consciência que se toma como uma identidade separada da vida: mente/ego. Ver todos os pensamentos como uma aparência na consciência é a chave da paz.

                         
                                  Consciência é anterior a tudo.
                    Sem consciência não há nada...

Pensamentos são conteúdos dessa consciência. Eles aparecem na consciência como as ondas aparecem no oceano.
Pensamentos surgem e desaparecem na consciência universal que somos.
Tudo é consciência e esta consciência é uma sobra do não-manifesto Pai eterno, aquilo que é não-criado, atemporal, e além de todos os conceitos. Portanto, o real é este infinito. A criatura e o criador são um só processo. Na tradição religiosa, o Pai e o Filho, O Absoluto e o Relativo, o Eterno e o Finito, podem ser vistos agora como complementos de um processo único.
                 
O ponto do ensinamento é trazer a atenção para esta consciência pura.
Esta consciência é silenciosa, compassiva, e sem conteúdo.
Quanto mais fixarmos a nossa atenção na consciência, mais ela se expande para nós, e quanto mais ela se expande, mais percebemos que nosso tamanho real é muito maior do que imaginávamos até então. Nossas crenças limitam a energia.
Padrões de pensamento criam caroços e vícios energéticos. Mas tudo isso pode ser visto como parte da mente, mas não parte do que somos como consciência pura.
O que somos está livre.
O que somos é uma testemunha de toda a ação do corpo e todo pensar da mente.

Isso é meditação!
Nisargadatta Maharaj diz: “O que você parece ser como fenômeno é apenas conceitual. O que você realmente é não pode ser compreendido pela simples razão de que no estado não-conceitual não pode haver ninguém a compreender”.

Ora, se a mente é puro conceito, se tudo que você pensa de você e o mundo é puro conceito, e se o seu eu também é um conceito, então como o conceito pode compreender o não-conceito?
Nisargadatta está tirando as bases de toda a busca e resumindo tudo: você é silêncio consciente.

E além do mundo você é apenas silêncio, Pura Potencialidade.

O mundo é a expressão ativa da consciência universal.
O que os sábios chamam de ilusório é confundir este corpo com o EU REAL.
A sombra não pode ser a substância, logo, o EU REAL não pode ser o ego e nem o corpo.
O EU é sempre o divino! O EU É SEMPRE ESPÍRITO!


Uma pessoa é o processo de objetivação daquilo que não tem forma, do Absoluto.
Para existir uma pessoa é preciso haver consciência.
Relembrar esta origem como consciência pura e fixar residência no silêncio que vem antes da manifestação é o ponto da meditação.
Com isso, o organismo passa a ser uma expressão direta da consciência, não tendo mais a mente como intermediaria.
O que faz a mente como intermediaria?
Ela impede a inteligência natural de se manifestar na sua vida.

A inteligência espontânea e natural vem da consciência.
A mente é apenas um arquivo de experiências vividas. Ela relembra o passado e imagina um futuro. Mas tudo isso no mundo virtual dos conceitos.
Vida vivida diretamente não necessita da mente como intermediaria.
Essa inteligência opera no agora, não precisando do tempo para se manifestar.
A consciência é a inteligência natural da vida.
E se você quiser usar sua memória, a mente será apenas uma boa serva.

O ouro está no anel, mas o anel não é o ouro. Anel é a forma do ouro.
Assim como seu corpo é a forma da consciência!
Mas o ouro existe sem o anel de ouro.
O que você é existe mesmo sem forma.
Consciência é a sua raiz, a sua base. Consciência é sua essência. Consciência é a alma da meditação. Meditação real é acordar para o verdadeiro EU - Consciência. Sofrimento é decorrente de uma identificação errônea com o que não somos.

O sábio diz: Identifique-se com a consciência sem forma, contemple o espírito que você já é agora, e permita-se observar a existência do corpo e da mente, deixando-os fazerem as melhores escolhas que puderem, mas mantendo-se desperto e alerta ao seu EU REAL que é sempre perfeito, imutável, divino, pura presença consciente - o milagre dos milagres e razão de tudo que existe."


Leia aqui os posts sobre Não-dualidade

Assista aqui um vídeo sobre não dualidade ( em inglês)


                  Os Estágios da Consciência


Para fins meramente ilustrativos, muitos sábios falaram em níveis de consciência. A consciência é uma só, mas ela se manifesta em vários níveis. Quando a consciência se manifesta, cada nível tem uma freqüência de onda diferente. Tudo no universo está em movimento, em constante vibração, o que significa que tudo se inter-relaciona através de uma vibração característica.

Como todos os sete estágios da consciência estão presentes no ser humano, a questão não é em que estágio ele está, mas em qual ele está funcionando AGORA. Qual está sendo a sua possibilidade AGORA. Porque num próximo momento você pode estar funcionando a partir de um outro prisma de consciência.

Nós todos flutuamos por esses estágios. Num dia só podemos estar uma hora com medo de não ter dinheiro no futuro e não ter onde morar (o medo do primeiro estágio), e depois de uma hora ter medo de ficar sozinho (o medo básico do segundo estágio), e mais adiante ter medo de perder o controle da vida ou uma profunda falta de confiança diante de tudo (terceiro estágio).

Esse artigo é só para brincar com esses conceitos e ver como a nossa mente reage diante dos outros e dos acontecimentos. Em cada nível a mente percebe o mundo de uma maneira. Aquele que vê o mundo com os olhos do amor e da compaixão abriu seu coração, e está funcionando do quarto nível para cima, muito diferente da pessoa que está só com medos da vida, sentindo-se separada de Deus, desamparada e solitária. Mas são apenas níveis mentais, não são realidades fixas.

Sempre a questão é: Quais os meus níveis preponderantes Quais os meus níveis habituais? É apenas para isso que ajuda falar desses níveis. E para notarmos que cada um deles é natural acontecer. O universo é inteligente. Você já notou que seu cabelo cresce sem você controlar? E que sua unha cresce, seu sangue circula, sua respiração acontece, sem você escolher? O universo é mágico e surpreendente.

Quantas coisas estão acontecendo e não sendo feitas por nós, seres humanos. Por que nós achamos então que podemos controlar tudo que acontece ao redor?

Cada nível tem sua função e é perfeito em si mesmo. Nós somos os vários níveis. Mesmo que você não conheça alguns níveis, não importa. Nós precisamos conhecer bem alguns níveis, pois todos são importantes na evolução da consciência.

Não é uma questão de que você não deveria ter medo. Nós precisamos sentir medo para então conhecermos o seu oposto. O oposto do medo é o Amor. Mas como o branco pode ser conhecido sem o preto? Como o baixo pode ser conhecido sem o alto? Como o alegre pode ser conhecido sem o triste? Como o sucesso pode ser conhecido sem o fracasso? Se você não tem o contraste, não pode conhecer. Sem os três primeiros níveis de consciência, não é possível conhecer os demais. É do carvão que nasce o diamante.    

             
Os sete estágios:

O primeiro estágio da consciência no ser humano é caracterizado pela busca da sobrevivência. Um teto onde morar, algo para comer. É a base para a formação de um ser humano. Um corpo sadio, um corpo saudável.

O segundo estágio da consciência em nós é o caracterizado pelo desejo de sexo e poder. O desejo de dominar, a competição, e o sexo pelo sexo. Não há encontro de dois seres, apenas o encontro de dois corpos. Se para preencher seu vazio a pessoa precisa estar sempre no controle de tudo, ela estará funcionando a partir do segundo nível de consciência. A mente vive sob o império do medo neste estágio. Medo de perder o controle. Medo de não possuir o outro. Medo de perder o poder.

O terceiro estágio na consciência humana tem como ponto marcante os relacionamentos. É um relacionamento mais profundo que o do segundo estágio, porque agora, além do sexo, há ternura, carinho, amor, atenção, cuidado. É claro, há também posse, controle, inveja e ciúme neste relacionamento, mas traz infinitas possibilidades a mais que o segundo. A grande maioria dos relacionamentos de amor que conhecemos se comporta dessa maneira: marcante troca de sentimentos que variam de bons a ruins.

O quarto estágio é o Amor. A consciência humana marcada pelo quarto estágio vibratório da mente experimenta o Amor. Este amor não é uma alternância entre amor e ódio. É um Amor, com letra MAIÚSCULA. Neste nível funcionamos numa entrega à vida. Este é o chamado chacra do coração. Você vê a vida como um milagre vivo. Há vislumbres do amor que as pessoas são, porque quando a mente está funcionando neste quarto nível de consciência muitos problemas e dificuldades desaparecem.

Há um engano de que podemos mudar os nossos problemas. Os problemas não desaparecem. Na verdade o que acontece é que você funciona em outro nível. Um outro nível de consciência. É como se você visse um filme. Às vezes é aventura, outras é drama. O que muda é o filme. Há problemas em um nível que não há em outro. A percepção de que tudo muda.

Quando a percepção da mente muda, o que acontece? Todo aquele mundo que você construía é visto de uma outra forma. Porque o mundo e a vida são o conjunto de crenças e sentimentos pessoais que temos sobre o mundo e a vida. Aquilo que penso ou sinto é minha percepção. Mas há outras maneiras de sentir e ver as mesmas coisas.

Muitos terapeutas, psicólogos, estão cientes da beleza do quarto estágio. Eles podem ajudar as pessoas que ainda estão envolvidas no medo, insegurança, e em relacionamentos co-dependentes (terceiro nível), aqueles que não aprenderam a se amar e a respeitar sua personalidade como um trampolim para Deus. Mas o quarto nível é muito frágil. Nele ainda é fácil se identificar com os problemas e conflitos dos três primeiros níveis.

Você já conheceu pessoas que você sabe que são muito amorosas, mas ao mesmo tempo se metem em muitas armadilhas? Pois é, há pessoas extremamente amorosas, que conhecem muito bem a compaixão e o amor pelo outro, mas os seus próprios pensamentos e sentimentos por si mesmos as abalam muitas vezes. São pessoas amorosas, mas ainda sofrem de insegurança e medo da vida.
Então a vida vai a encaminhando para conhecer o quinto nível.

Perceba uma coisa interessante: os níveis são regidos por sentimentos e pensamentos, não é mesmo? Pensamentos e sentimentos de medo, amor, culpa, ansiedade, leveza… 
Estes são os filmes: Pensamentos e sentimentos são filmes, que nesse caso são o que diferenciam um nível de mente para outro. Uma necessidade de outra percepção.
Mas quem é você neste caso? Um nível de mente ou aquele que percebe que os níveis mudam?

Se você percebe que os níveis mudam e que você está se identificando ora com um, ora com outro, note que a mudança de foco criará uma nova percepção em você. Se você é aquele que vê o filme, aquele que nota que os níveis mudam você é a pura consciência que vê. 
Essa pura consciência que vê, a chamamos de observador. 
A meditação é o início desse ponto de vista novo.


        
No quinto nível vibratório de mente você nota que há um observador que se identifica com a mente. Ou seja, você percebe que há algo em você que observa e que não é aquilo que observa. Este observador foi chamado por algumas religiões de Espírito Santo.

Quando você percebe que este observador é você, e você não é quem você pensava que era (o conteúdo dos três primeiros níveis, que são pensamentos, sentimentos passados, e sensações corporais), então você está tomando consciência do quinto nível, que é pura observação sem julgamento, pois não há conceitos a serem julgados neste nível.
O quinto nível vê os quatro primeiros níveis sem julgar, sem comparar, sem analisar, sem comentar, sem dar opinião, sem usar lógica, sem argumentar. O quinto nível é a pura observação. A prática da meditação em essência é isto. Os buscadores aprendem a observar os pensamentos, sentimentos e sensações corporais sem julgar “bom ou mau”, e a isso chamam de meditação.

Quem julga são os quatro níveis primeiros – A MENTE CONSCIENTE, que está sempre em comparação. É o nível do ego ativo. Se você apenas nota a mente julgar, você aprende devagarzinho a separar o julgador, do observador que nota o julgador.

Quando você aprende a observar que quem está julgando é sua mente (quatro primeiros níveis de consciência da mente), e que seu quinto nível é puramente silencioso e cheio de amor, você percebe que pensamentos e sentimentos o incomodam quando você se identifica totalmente com eles. Aprender a não se identificar dos pensamentos e sentimentos passados é meditar. Os pensamentos e sentimentos estão lá, mas não são mais controlados pelo ego. E um milagre acontece: toda aquela energia que estávamos colocando para fora é guardada dentro. É por isso que as pessoas dizem que a yoga e a meditação ajudam a conservar energia. Sua mente fica mais clara. E você deixa de criar problemas desnecessários.

Dizem os sábios, que os sexto e sétimo estágios são experienciados pela graça divina. “Você não pode fazer nada para alcançar a iluminação”, dizia Buda. Porque a iluminação é uma entrega total a Deus. Jesus Cristo entregou totalmente quando disse: “Pai, Seja feita a Vossa Vontade”. Gautama Buda entregou quando disse: “Descobri que não há eu, que tudo é vazio, que a vida faz tudo por mim”. Krishnamurti dizia: “O pensamento é passado. Descubra o que está presente Agora”. Osho disse: “Iluminação acontece quando não há nenhum desejo de ser diferente do que você é. Então Deus te ilumina com sua graça quando você relaxa e confia”. O sábio Gurdjieff dizia: “Você não tem um centro. O centro é sua alma. Você é, nesse instante, muitos desejos desconexos. Você tem de trabalhar para descobrir seu centro”. O sábio hindu Paramahansa Yogananda dizia: “Só um coração que conhece o amor pode ver Deus”.


O professor pode te ajudar a conhecer o que ele conhece. Se um professor espiritual conheceu experiencialmente os cinco primeiros níveis de mente, e aprendeu a se estabelecer no observador, simplesmente relaxando e observando seus pensamentos e sentimentos, ele pode ensinar outros a ajudar outras pessoas, a se estabelecer no observador, no quinto nível.
Este é o último ensinamento. Os outros ensinamentos são na verdade aprofundamentos na entrega do ego, aprofundamentos na confiança, que não há nada que se possa fazer, pois é a vida a Grande Mestra.

Um mestre iluminado pode criar uma energia para iluminação. Ele cria um campo de energia búdica. Um mestre iluminado conhece todos os níveis, e, portanto, conhece truques, e tem uma clareza total do funcionamento da grande mente cósmica, ou seja, daquilo que chamamos de níveis de consciência.

Um mestre iluminado simplesmente desapareceu como um eu, porque ele não quer mais controlar a vida. Mas ele tem um ego que o ajuda a falar com você. Quando você chama seu nome ele reconhece. A única diferença é que ele conhece os níveis e não se identifica com nenhum, pois ele sabe que não é nenhum nível, mas puramente consciência além de qualquer nível. 

Consciência que observa os níveis.

Um mestre iluminado vê a vida como uma grande brincadeira cósmica. 
Vê tudo como uma coisa só, e não julga aquilo que vê. 
E nota que todas as pessoas são na verdade iluminadas, apenas precisam realizar isto.

                                   Por Swami Sambodh Naseeb 
                                                  Leia seus textos aqui

                                
                             
Saiba mais sobre o Advaita Vedanta


O Advaita Vedanta é uma “filosofia”, por assim dizer, que surgiu há muitos séculos na Índia, tendo a sua origem nos Vedas, as escrituras mais antigas e sagradas do Hinduísmo. 

Advaita literalmente significa “não-dualidade”, e Vedanta significa “a parte final (ou conclusão) dos Vedas”.

Aquele que contempla no Ser todo-sapiente, sem idade,
o governante de tudo, mais sutil que o mais sutil,
o sustentáculo universal, possuindo uma forma
além da concepção humana, refulgente como o sol
e muito além das trevas da ignorância, 
atinge, verdadeiramente, 
este divino Purusha (Deus) supremo.
~Vedas~

Leia aqui posts sobre Advaita - Vedanta


A doutrina principal do Advaita postula que apenas o Absoluto (Brahman) é Real e que o mundo (toda a criação) é irreal, sendo que toda e qualquer modificação, dualidade, pluralidade – seja objetiva ou subjetiva – é apenas uma superimposição, uma imagem que é sobreposta ao Absoluto através do poder da ilusão (maya). Como o Absoluto é imutável e sem atributos, a criação é negada, uma vez que o absoluto não pode criar, devido a sua própria “infinitude”, digamos assim, e também porque não pode haver nada “fora” ou “diferente” dele. 

O Absoluto é o oceano de Ser-Consciência-Beatitude (sat-chit-ananda), sendo Real, enquanto que tudo o que nele surge e desaparece é transitório, limitado e, portanto, irreal. Nas palavras de Shankara, o ensinamento Advaita central é que “o absoluto é real, o universo é ilusório, e a alma individual não é diferente do absoluto“. Embora a alma individual (jiva) seja vista como parte do mundo ilusório, e portanto irreal, a “testemunha” que há por trás dela (a Consciência), ou Eu Real, é idêntico ao Absoluto.

"Aquilo é o Todo. 
Isto é o Todo. 
O Todo dá nascimento ao Todo.
O Todo se dissolve no Todo. 
Só o Todo existe."
~Upanishads~

Para o Advaita a ilusão, ou ignorância espiritual, não é real, mas apenas uma falsa-percepção. Os Upanishads explicam que Maya (ilusão cósmica) causa o surgimento do universo e que avidya (ignorância individual) é responsável por o Absoluto Ser parecer ser uma multidão de almas individuais (jivas). Assim, através da ação inexplicável da ignorância, o Absoluto ou Eu Real (Brahman ou Atman), cuja natureza é Ser-Consciência-Beatitude, encontra-se preso em um complexo corpo-mente, acreditando-se e vivendo como se fosse um ser limitado e individual, enquanto que na verdade é apenas existência impessoal e eterna. 

A metáfora mais utilizada pelas escrituras é a situação de um homem que abre a porta de um quarto escuro e, naquele momento, uma corda que estava em uma prateleira cai no chão, e o homem, devido à pouca luz existente no recinto, acredita ter visto uma cobra, enchendo-se de medo. De igual maneira, ensinam os mestres, nós acreditamos ser um ser individual, limitado a um corpo-mente, vivendo em um mundo exterior, objetivo, substancial e real, enquanto que tudo isso não passa de um sonho, um engano, uma miragem. Nós somos, agora e sempre, apenas o Eu Real ou Self.

O obstáculo principal à liberação da alma (moksha ou mukti) é a falsa identificação do eu com o corpo-mente – em outras palavras, a ilusão de que o corpo-mente é “eu” ou “meu”, que estamos circunscritos a ele. 

Assim, os textos de Shankara (e os demais textos Advaita supervenientes) recomendam que a remoção dessa ilusão seja obtida pelo processo inverso de “des-superimposição”. Para isso o aspirante à iluminação deve desenvolver as seguintes características:


*Discernimento espiritual (viveka): saber separar o Real do irreal, o eterno do transitório, e ter a convicção de que apenas o Absoluto é real e tudo o resto é ilusão;

*Desapego: (vairagya): não desejar nada, nem neste mundo nem em vindouros. Não buscar a felicidade em nada que não seja o Eu Real;

*Seis virtudes: serenidade, autocontrole, cessação das atividades, equanimidade, concentração mental, e confiança (nos ensinamentos e no Guru);

*Desejo forte pela libertação (mumukshutva): desejar apenas iluminação, com a exclusão de todo o resto.

Assim equipado, o buscador deve aproximar-se de um Guru que seja um mestre espiritual iluminado e ouvir a verdade de que “eu sou Brahman” (shravana), refletir sobre ela até convencer-se completamente do seu conteúdo (manana) e meditar sobre ela (nididhyasana) até que a ilusão de ser um corpo-mente desapareça (samadhi).


Os Upanishads aconselham a prática de mentalmente rejeitar tudo, rejeitar a atenção a qualquer coisa que não seja o Eu Real, através da prática neti, neti, que literalmente significa “não isto, não isto”. 

Também, através da repetição das chamadas “grandes frases” (mahavakyas), eliminar a falsa impressão de que somos uma personalidade ou individualidade e descobrir nosso verdadeiro ser. 

Tais frases são:
Eu sou Brahman (aham brahmasmi)
Você é Aquilo (tat vam asi)
Tudo é Brahman (sarvam khalvidam Brahman)
A Consciência é Brahman (prajnam Brahman)
Eu sou Ele (so ham)


Em síntese, tais são os princípios do Advaita Vedanta clássico e as práticas por ele aconselhadas. Por outro lado, os três mestres sobre os quais se encontra informação neste site, muito embora não tenham seguido ou estudado o Advaita, alcançaram a realização e expressaram a verdade que vivenciaram em termos idênticos àqueles encontrados nos textos de Advaita do passado. 

Nos ensinamentos desses três Gurus – que certamente foram os maiores e mais populares expositores da Não-Dualidade do século passado – encontra-se a verdade não-dual de uma maneira mais simples e acessível ao mundo contemporâneo e à mente ocidental em geral, bem como outras formas de prática que levam ao mesmo objetivo: a superação de todo sofrimento e limitação pela realização do nosso verdadeiro Ser.

Bhagavan Ramana Maharshi aconselhava a leitura dos seguintes textos da literatura Advaita:

Advaita Bodha Deepika
Yoga Vasistha
Ribhu Gita
Ellam Ondre
Kaivalya Navaneetha
Ashtavraka Gita
Sorupa Saram


O próprio Maharshi também traduziu alguns textos de Sri Shankara, entre eles o Vivekachudamani (versão em português), que é outro clássico. 
(A versão traduzida por Sri Ramana pode ser encontrada no seu livro The Collected Works of Ramana Maharshi).




História. Desenvolvimento. Linhagem.


Para os Hindus, os Vedas são textos de autoridade espiritual incontestável, sendo chamados de shrutis (textos ouvidos) e encarados como fruto de revelação divina, sem autoria humana. A mensagem central dos Vedas é que o Eu Real é absoluto, imortal, sempre livre e sempre puro. Todos os outros textos nos quais as doutrinas e práticas Hindus são expostos são tidos como possuindo autores humanos, sendo chamados de Smritis (textos lembrados) e Puranas (narrativas antigas). A elaboração em prosa e verso da literatura Védica se extende no tempo desde o Rig Veda (em 1400 a.C.) até os Upanhishads (1000-500 a.C.).

O Vedanta é um dos seis sistemas ortodoxos (darsanas) de interpretação dos Vedas, tendo sido fundada pelo Rishi Badarayana (provavelmente século II d.C.). O cânone do Vedanta é os Upanishads, o Brahma Sutra, e o Bhagavad Gita. Os Upanishads se constituem na parte final de cada um dos quatro Vedas, a sua “conclusão”, contendo a sua essência filosófica e os ensinamentos a respeito de Brahman (o Absoluto), da criação do mundo, do Self,  e da libertação. 

O Brahma Sutra (também conhecido como Vedanta Sutra) é o texto do Rishi Badarayana que consolidou a escola Vedanta; nesta obra, o Rishi faz uma análise profunda e sistemática dos ensinamentos dos Upanishads e os apresenta de uma forma lógica e coerente. É datado, por alguns, do ano 500-200 a.C. e, por outros, do ano 200 d.C. Já o Bhagavad Gita é um grande clássico espiritual hindu, contendo os ensinamentos de Sri Krishna dados ao guerreiro-príncipe Arjuna, no campo de batalha. No entanto, foi apenas com o comentário de Sri Shankara ao Bhagavad Gita que este texto tornou-se amplamente conhecido e venerado.


Com o tempo surgiram diferentes escolas do Vedanta, sendo que a escola Advaita (“Não-Dualidade”) foi a que mais se destacou. Hoje pode-se afirmar, com propriedade, que o Vedanta impregnou tão profundamente o pensamento indiano que a espiritualidade hindu tornou-se essencialmente o Vedanta, com a interpretação não-dual sendo a mais influente.

O início formal do Advaita é considerado por muitos como sendo a grande obra Mandukya Karika de Gaudapada (século VII d.C.). Posteriormente, quando o Hinduísmo havia enfraquecido na Índia, quase que abrindo espaço exclusivamente ao Budismo, Sri Shankara restaurou o Vedanta sob o enfoque da filosofia Advaita por todo país, o que é certamente uma das razões de sua predominância sobre as demais escolas.

“Advaita” não é sinônimo de “Vedanta”, 
mas apenas uma de suas três escolas principais. 

Contudo, desde o início do Vedanta, passando por Gaudapada e Shankara, até o surgimento da escola Vishishtadvaita (não-dualidade qualificada), pode-se dizer corretamente que Vedanta era sinônimo de Advaita.

Tradicionalmente diz-se que a linhagem de gurus no Advaita inicia-se com  Sri Dakshinamurti, passando por Shankara e seus discípulos. 
Outros gurus anteriores incluem: Narayana, Vasistha, Vyasa, Shuka, Gaudapada, Govinda, entre outros.

Swami Vivekanda (1863-1902), discípulo de Sri Ramakrishna Paramahansa, foi o primeiro Sábio Hindu a vir ao ocidente e expor a filosofia do Vedanta, tendo assim colaborado grandemente para a sua atual popularidade entre os círculos espirituais ocidentais. 

Posteriormente, Sri Ramana Maharshi (1879-1950) simplificou o Advaita e tornou-o acessível a todos.


Fonte: Advaita Bodha Deepika, por Sri Karapatra Swami
Saiba mais clicando aqui