O Prana do Prana...
"A natureza do Ser é sempre a Graça, na qual não há nunca doença alguma. O Ser está sempre seguro, nunca se quebra e nada entra nele.
Todas as coisas materiais estão sujeitas a serem danificadas ou aumentadas. Quando você experimenta qualquer coisa material sendo danificada, você pensa que você é responsável por esse dano. O indivíduo imagina que ele mesmo sofreu o dano de alguma forma.
O Ser não tem coisa alguma em Si.
Não há nada nele que possa ser danificado ou que irá degradar. Ele não possui nenhuma sujeira, isso significa que nenhuma coisa material articula nele. É por isso que ele é chamado de limpo e como não há nenhuma sujeira, ele é indestrutível. A decadência é a qualidade da sujeira. Ela está fadada a decair e a ser destruída, retornando de volta para a terra.
Entretanto, o Ser imaculado é indestrutível. Embora Ele esteja no corpo e nos órgãos dos sentidos, Ele não é afetado por eles. O Ser não tem nem nascimento e nem morte. Ele jamais é corrompido e não possui partes. Ele não é constituído de várias partes, não é a soma de partes. Se você deseja saber quem é Ele, esse Ser é Aquele que vive no seu corpo e que conhece o corpo.
Quando dizemos que o conhecimento é temporário, queremos dizer que o conhecimento na mente é temporário. A fala chega ao fim mas a Consciência permanece. Se um homem não tivesse estado ciente de si mesmo ele jamais retornaria para casa quando tivesse saído para fazer algum trabalho. Os desejos pertencentes aos órgãos sensoriais eventualmente morrem, mas a natureza essencial do Conhecimento, a Consciência, permanece.
A infância, a juventude, a velhice, etc. são estados do corpo. Essas são fases naturais de toda coisa material. Por meio da energia vital, ou o Prana, esses estados são entendidos quando eles vêm. Entretanto, o próprio Prana não se torna jovem ou velho. Sua qualidade de energia permanece a mesma. Uma vez que o Prana não tem mudança em seu estado, como pode o Ser que é o “Prana do Prana”, a “A Energia da Vida da energia vital”, ter esses estados?
Os ovos, a fermentação da combinação do calor com a umidade da placenta e as sementes, são as quatro fontes de criação de todos os seres. Em todos os seres o Prana funciona apenas através do Poder do Ser. Os estados como a infância, etc., não tem nenhum efeito sobre o Prana, então como podem afetar o Ser? O indivíduo, por meio de seu próprio conceito errôneo, se limita. Nos desejos há aprisionamento. Isso pode ser explicado da seguinte maneira: o que quer que você deseje está num certo lugar, se você deseja aquilo você deve ir lá onde isso está. Você tem de esperar lá até que consiga o que quer, e aquilo não pode ser levado embora de seu local,você tem que permanecer lá. Apenas ali você pode desfrutar do objeto ou usá-lo. Sendo que ele não pode ir conosco para onde vamos, temos de viver próximos do objeto porque estamos necessitados dele. Esse é o aprisionamento devido aos desejos. Se não quiser ficar aprisionado, você tem de abandonar os seus desejos. Apenas dessa forma você poderá viver livre. Onde há desejo há detenção, que significa ter uma residência, viver no mundo. O desejo implica em estar nas proximidades do objeto. Quando o desejo morre, a detenção se vai. Ao abandonar o desejo a Liberação é certa. Entretanto, abrigar desejos é em si aprisionamento. Quando todos os desejos são abandonados para sempre o homem se torna a “Realidade”, enquanto que o indivíduo que tem todos os seus desejos prendendo-o apertado, descende em direção à destruição.
O Ser é intocado por todas as qualidades ou modificações. Alguns dizem que no estado desperto, o Ser é limitado pelos limites desse estado. Entretanto, se esse fosse o caso, Ele não teria conhecimento do estado de sonhos e ficaria atado a um estado apenas. Ele teria continuado a comer apenas coisas doces ou apenas coisas amargas, mas Ele não é assim. Isso significa que Ele não é afetado, embora esteja no corpo. No estado de sonhos, Ele opera através da mente apenas, sem a ajuda do corpo físico e dos órgãos sensoriais.
Quando Ele vai além do sonho, no sono profundo, Ele permanece sozinho sem nenhum revestimento ou corpo. Não há nenhuma ondulação de nenhum tipo. Você pode dizer: “Onde está o Ser? Não há nada ali”, mas esse não é realmente o caso. Quem é esse que pode dizer que estava dormindo gostoso? Quem é esse que responde ao chamado feito para ele pelo nome dado ao seu corpo? Isso não seria possível sem o Ser. Os estados de sono profundo e de vigília são apenas do corpo físico e não do Ser. Ele, sendo a testemunha de todos os três estados não pode ser “nada”. Ele é o Ser Supremo, Paramatman. Você pode perguntar como é que quando Ele acorda do sono, Ele se lembra novamente de todos os arredores do estado desperto.
Escute atentamente a explicação: as “circunstancias circundantes” estão relacionadas ao intelecto ou ao cérebro e não ao Ser. Se o intelecto é transformado, toda a vida se torna irreal. Então não há aprisionamento ou liberdade de algo.
A vida mundana existe porque você diz que sim. Você a concebe assim. Ela é real apenas por causa de seus conceitos. Se você dissesse: “Eu abandonei-a”, então a vida mundana, o aprisionamento, terminaria. Se você aumentá-la, ela aumenta e se você a destruir ela é destruída.
A mente é a fonte da vida mundana bem como da vida espiritual. Ao ir dormir, você remove as vestimentas externas, quando você acorda você as coloca novamente. No sono profundo você não está ciente do corpo encobrindo o Ser. Quando você desperta, você vê e através de sua atenção você se lembra de tudo. Para aquele cuja ignorância e o egoismo se foram, tudo é somente Brahman, até mesmo o estado desperto. O indivíduo dissolve-se e torna-se Paramatman. Então não há desejo de nenhum tipo. Não há nenhuma comparação a ser utilizada. O significado de comparação nesse caso é no sentido de mostrar que o “Conhecimento da Natureza da Verdade” é parecido com alguma coisa. Não há nada igual a ele ou nada similar a ele que possa ser apresentado. Nem existe palavra que possa ser usada para descrever esse estado ou o seu significado de maneira plena e adequada. Não há nenhuma forma, objeto ou palavra que possam ser comparados a esse estado. Portanto, o estado é chamado de além de comparação, ou é dito que não há nenhuma comparação ou alegoria disponível que possa explicá-lo. Para “Ele” não há nenhuma outra coisa. O mundo inteiro é apenas Parabrahman ou Paramatman.
Quando o Conhecimento do Ser está evidente, há somente a própria felicidade, feliz por existir. A própria Graça revela-se na Graça.
Aquele que for um devoto abnegado terá essa experiência quando a Ilusão for descartada. É por isso que a devoção deveria ser contínua. Não deveríamos nunca esquecer do nos devotar. Não deveria haver Esquecimento. Quando algum outro objeto ou realização se torna atrativo para o indivíduo e ele pensa sobre esse objeto, ele esquece sua Devoção a Deus. Portanto, os Santos insistem na devoção incessante. Quando o devoto descarta o desejo por dinheiro, filhos, riquezas materiais e fama na sociedade e dedica-se totalmente à Devoção a Deus, a sujeira na Consciência é limpada e ela se torna unida a Deus, residindo em sua Verdadeira Natureza (Swaroopa).
Quando o Amor e a Devoção por Deus aumentam, os ditos dos Vedas são subservientes ao Devoto. “Aquilo” que os Vedas declararam ser a mais Elevada Verdade, é proferido por ele muito naturalmente.
É então que a Existência é experimentada como “Um Todo Completo”. Essa é a Devoção do mais alto grau. Essa devoção liberta a todos, incluindo as mulheres, os homens, os mais baixos e os Sacerdotes (Brahmins), sem nenhuma discriminação. Entretanto, se a mente não estiver pura, não haverá a luz do Ser.
Aquele que possui a Devoção imparcial atinge a Realidade. O véu sobre seus olhos desaparece.
O Sol e uma multidão de coisas são vistos de imediato.
Quando a pessoa abandona todo o orgulho e a mente torna-se livre de dúvidas, tudo é visto como Brahman."
Siddharameshwar Maharaj em O Prana o Prana
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