O Milagre e a Graça...
"Talvez eu comece a deixar de uma vez por todas, tentar entender o mundo.
Vejo ser o mundo pano de fundo ilimitado de sensações e contrastes, reflexos e combinações, presenças e histórias, estímulos e caminhos onde me cabe perceber sempre um só graveto, um só cantar, apenas um raio de sol, quando não a chuva e a tempestade que só em mim desaba.
Acho eu que essa minha insistência em olhar pra Vida como um campo de batalha só me faça ver soldados cinzentos, ou pregos, caso eu carregue um martelo.
Talvez minha desistência seja, pelo contrário, uma entrega e um permitir disfarçados, uma renúncia ao azar, à ingratidão e ao mofo da Alma; vindo daí uma aceitação tímida, de que a vida é bem-vinda no meu quintal, na minha festa, seja lá com qual roupa ela venha.
E ao invés de correr para as montanhas e viver escondido e intimidado pela plenitude que me convida a um agora próspero e bonito, eu possa me expor à chuva e também ao sol, às perdas como também aos ganhos e, por isso, eu me permita levantar os véus da ilusão e ver a Vida um campo infinito de possíveis realidades onde escolhemos a que nos cabe e nos ressoa, onde (re)criamos e multiplicamos as oportunidades; de nos expressarmos na Verdade que habita em nós e que atua através de cada um.
Somos nós quem permitimos o milagre e a graça.
Melhor mesmo deixar viver e contemplar o mistério das coisas ao tomar meu chá antes de dormir...
Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".
Poema de Guilherme Antunes
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