A ponte no céu...


Todas as manhãs, o mestre e seu discípulo, saíam do mosteiro, e faziam sua caminhada pelas montanhas frias. Partilhavam ensinamentos, e observavam a natureza e suas nuances sempre inéditas.
Um dia, quando o sol ainda estava se levantando, os dois saíram e como de costume se puseram a caminhar. Só que desta vez, o mestre disse que o caminho seria outro.
O discípulo humildemente aceitou e foram.

Em um determinado trecho da pequena estrada, o mestre aponta ao discípulo, que siga sozinho pela pequena trilha em meio as pedras, e que ele ficaria ali a sua espera. A partir dali, ele iria só.
O discípulo sem compreender, concordou e seguiu pelo caminho indicado.
As nuvens estavam encobrindo o caminho, e nada se via.
O discípulo caminhava e seu mestre desaparecia em meio as densa neblina. Até que chegou em um lugar, que era um grande desfiladeiro, onde havia uma pequena ponte, muito frágil, apenas sustentada por finas cordas.

Neste instante, o discípulo sentiu um frio na espinha, pois tinha medo de altura, e desde pequeno esse tinha sido o seu maior desafio.
A ponte desaparecia dentro da forte neblina, ele então muito aflito, resolve sentar em uma pedra para descansar e refletir.
Sua cabeça girava. Pensava no risco de cair, se aquilo era um teste que seu mestre lhe colocara, se ele sobreviveria, e se a ponte caísse, não haveria ninguém para socorrê-lo...pensamentos múltiplos lhe passavam pela cabeça...e ele sem saber o que fazer...
Foi então que se lembrou dos ensinamentos de seu mestre: - A dúvida acontece a nós. Nós observamos a dúvida, mas nós não somos a dúvida. Apenas observe a dúvida.
Foi então, que resolveu confiar em seu mestre, nos anos todos que se conheciam, nos ensinamentos luminosos que aprendera com ele, e observando a dúvida, decidiu ir em frente.

Começou a caminhar pela ponte, e as pernas tremiam, o coração batia aflito, e suas mãos suavam. Ele então se lembrou do que seu mestre lhe dissera uma certa vez: O medo acontece a nós, mas nós observamos o medo, logo, não somos o medo. Apenas observe o medo.
E ele caminhava observando o medo, apenas observando.

Quando estava no meio da ponte, e não via nenhum dos dois lados dela, pois estava completamente encoberta, lhe veio uma forte sensação de abandono, de solidão, e uma vontade enorme de desistir de tudo e partir, ir para longe, começar uma nova vida, longe do mosteiro, longe de tudo aquilo. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele se sentiu fraco, abandonado e sem rumo. Foi aí que novamente se lembrou das palavras de seu mestre: -A tristeza acontece a nós, os sentimentos acontecem a nós. Nós observamos a tristeza, os sentimentos, como observamos as nuvens no céu. Todos passam. Aquilo que somos não passa, permanece para sempre. Observe a tristeza, observe os sentimentos, apenas observe.
Nisto seu coração se encheu de coragem e confiança, e ele viu que todas as dúvidas e medos aconteciam a ele, mas não eram ele. E apenas observando os sentimentos passarem foi calmamente até o final da ponte.

Chegando lá percebeu que algo havia mudado em si mesmo. Percebeu que os ensinamentos de seu mestre fortaleceram sua luz interior, e que a partir dali, poderia ir a qualquer lugar, pois já havia encontrado a verdadeira fonte de sabedoria, seu ser.
Nisto uma gratidão e um amor brotaram em seu coração, e ele pode avistar seu mestre sorrindo em baixo de uma pequena árvore.
Ao chegar perto dele, se prostou e lhe agradeceu por tanta luz.
O mestre apenas sorriu, e lhe disse: -A gratidão acontece a nós. Observamos a gratidão, como observamos as nuvens no céu. Mantenha-se observando, apenas observando, nada mais.

E foi neste instante que algo se iluminou dentro dele.
Num instante, a consciência de que ele nunca foi um "eu", separado, e sim sempre foi o Todo da existência acontecendo. Lágrimas rolaram dos seus olhos, e ele pela primeira vez pode ver a sua real dimensão, a dimensão da totalidade acontecendo, em tudo e em todos.

Todos os ensinamentos sempre apontaram para essa não identificação, todos os ensinamentos sempre apontaram para a impessoalidade da existência, e só agora, esta consciência desperta lhe alcançou. Neste instante, toda a cegueira e ignorância da verdade se dissolveram bem diante dos seus olhos, e ele pode ver seu mestre, as pedras, o sol, a ponte, a relva, as árvores, os sentimentos, os pensamentos, toda sua história, tudo enfim, como uma extensão de Si mesmo., extensão dessa única dimensão amorosa, que é o Todo indivisível da existência.
Tudo na mais absoluta perfeição.

Houve um instante de compaixão entre os dois, mas nenhuma palavra foi dada.
Apenas se olharam, fizeram o cumprimento Namastê, sorriram, e voltaram simplesmente, ao caminho, nesta radiante manhã nas montanhas.
A Ponte no céu - autor desconhecido.

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