Reflexões sobre a miserabilidade...


Vocês podem nem conhecer esta palavra... mas miserabilidade é mesmo um grande obstáculo à nossa felicidade, por que não dizer, talvez o maior deles...

Ao longo da história da humanidade, ouso afirmar, que desde sempre fomos impelidos a acreditar na nossa miserabilidade; seja ela individual, familiar, coletiva, social, religiosa, cultural, profissional...não importa, a verdade é que a sensação de inadequação, de inferioridade, de fraqueza, de "errado", é constante...desde tempos imemoriais...

Pesquisando um pouco de antropologia, fica claro que o homem pré-histórico sofreu inúmeras ameaças, inúmeros medos e passou milênios sofrendo perseguições e ataques de animais, sofrendo com todas as mudanças da natureza, enfim...fome, frio, calor, sede... medos, medos e mais medos...
Percebemos que somos frágeis, somos pequeninos, somos vulneráveis e que a natureza é poderosa, e que a vida é mesmo tênue, e não temos controle nenhum...

As sociedades por sua vez, foram criadas para que juntos, pudéssemos conseguir uma qualidade de vida melhor, conseguíssemos nos ajudar mutuamente, e assim, nos sentirmos mais fortalecidos e apoiados, uns pelos outros. As sociedades existem para que nos sintamos melhores, mais felizes e protegidos.

Só que as sociedades acabaram por repetir aquele mesmo padrão ameaçador de antes. Mudaram certos conceitos, mudaram as ameaças, mas o medo permanece ali. Ao invés de nos sentirmos mais fortalecidos e apoiados, as sociedades criaram padrões de exclusão, de submissão, de enfraquecimento do individual em detrimento do coletivo, e isso fez com que mais uma vez, nos sentíssemos fragilizados, explorados, sem apoio e... com medo...

Tudo isso criou em nós, um padrão constante de miserabilidade, ou seja, milhares de vidas experimentando este mesmo padrão de inferioridade, de submissão, de exploração, de medo, fez com que nossa mente literalmente "congelasse" neste padrão miserável. Passamos a acreditar tão profundamente que somos miseráveis e sem valor, que isso condiciona toda a nossa vida.. e isso vem acontecendo por gerações e gerações...

Quando paramos e olhamos para este padrão mental com olhos e coração abertos, vemos o quão isso é forte, presente, e que se desdobra em inúmeras nuances e disfarces comportamentais, mas que quando investigamos profundamente, eis que lá está, a miserabilidade novamente... 

Vejam por exemplo, o que dizem os mestres do oriente: 
"Você é o Absoluto. Só há o Absoluto. Não existe nada fora do Absoluto. E você é Isso!" - Nisargadatta Maharaj  

"Tudo o que existe é a Totalidade. Você não é uma gota no oceano, você é o Oceano na gota." - Osho 

Como alguém que ainda esta aprisionado na mente miserável, pode compreender isto? Como uma mente que por eras, foi condicionada numa profunda negatividade, medos, desconfianças consegue se abrir e acolher esta verdade? 

A mente miserável somente vê miserabilidade. 
Ela está condicionada pelo passado, ela somente consegue projetar esta negatividade e menos valia sobre a realidade; é impossível para uma mente miserável sentir mesmo que de longe o perfume dessa beleza radiante que os mestres nos apontam...

E vemos também, a partir dessa miserabilidade congelada, a distorção do complexo de superioridade. Aqueles que foram no sentido oposto do miserável, foram no sentido de se acreditarem superiores, e com isso, poderem ao invés de se sentirem como os oprimidos, serem os opressores...
Mas, se olharmos com cuidado, veremos que se trata de uma reação apenas, nada além disso, pois a miserabilidade continua lá, só que disfarçada de superioridade e poder.

O ego se alimenta do extraordinário. Seja para mais ou menos, o ego vive do extraordinário... e enquanto alimentarmos este pensamentos extremados, exagerados, insensatos e destorcidos, continuaremos sofrendo e fazendo sofrer.

Vivemos em um momento tão belo, tão propício a sairmos desses condicionamentos mentais de uma vez por todas. Hoje temos acesso a tanta luz, tanta sabedoria, tanto conhecimento profundo como jamais aconteceu.

Temos a oportunidade de questionar, de investigar profundamente e claramente, todos os condicionamentos que nos foram impostos por eras e eras, temos a chance de nos abrirmos à tanta sabedoria que antes era restrita a pouquíssimas pessoas. 
Hoje está tudo absolutamente disponível e mais, esta Verdade é viva nos mestres, é viva naqueles que a experimentam, e que finalmente puderam perceber o que é real e o que não é, finalmente puderam separar o joio do trigo, e desfrutar das imensas belezas da vida, de modo simples, amoroso e sem nenhuma pretensão.

A simplicidade é a chave para começarmos a desfrutar dessa beleza. 
Importante nos abrirmos ao simples, ao óbvio, ao que sempre esteve presente aqui e agora. 
A vida que bate no nosso coração, está no ar que respiramos, na luz do sol que aquece nossa pele, a água que mata nossa sede. Caminhamos neste chão e vemos as mesmas estrelas brilhando no céu.
Somos filhos desse Universo, nosso lar é onde nossos pés tocam; Nunca fomos estrangeiros aqui, nada do que acontece acontece para nos destruir, pelo contrário, somos a realidade viva e nisso, tudo se realiza... somos o oceano na gota...


Como é possível alguma miserabilidade quando olhamos o céu a noite, quando vemos o sorriso de uma criança, e quando podemos amar sem medida? 

O amor nos realiza. 
O amor é o sentimento dos Budas, algo que põe por terra todo e qualquer sentimento seja de superioridade ou inferioridade. 

Amar é Ser.
Não Ser mais ou menos que alguém, mas Ser Amor... e acolher...

Quando o Amor está presente compreendemos profunda e definitivamente o quão maravilhosa é a vida e que nada está errado, faltando ou perdido.. ninguém é miserável, ninguém é inferior, ou superior...tudo é a Vida Vivendo, a Existência sendo...o Universo se maravilhando consigo mesmo...tudo pertence e nós somos esta Verdade lúcida, esta Verdade Consciente...

Nenhuma miserabilidade sobrevive quando o Amor consciente está vivo em nossos corações...
Se ainda estivermos presos à insensatez da miserabilidade, compreendamos que o amor ainda não está plenamente vivo em nós. Ainda estamos nos deixando levar pelos antigos e decadentes condicionamentos mentais...

É por isso que faço a cada um de vocês um convite: A partir deste momento desacredite de tudo o que te faz inferior ou superior. Viva a beleza de ser comum, fraterno, companheiro, humano, igual na sua originalidade... aí está a cura de toda e qualquer distorção que a mente teima em trazer...

Amar o presente é ser vivo e acolher, mesmo sem compreender, aquilo que a vida nos trás. Ter consigo a certeza de que a sabedoria divina é absoluta, é plenamente consciente, e plenamente sábia e que o Amor é a sua mais sublime manifestação...

Namastê 
Amidha Prem


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