A Consciência - Bob Adamson
Jamais haverá mais deuses, totalidade, abundância, perfeição e infinitude do que há nesse presente momento.
Vivendo nesse momento de É-ismo, o próximo momento se desdobra como uma continuidade da Graça.
[ É-ismo = termo inventado; qualidade de ser sempre o que É.]
Participante Pode o tempo existir?
Bob: Ele é sempre presença. Quando você está pensando sobre ele, isso é no presente. O tempo é um conceito mental.(...)
Participante: Como e porque o UNO se torna muitos?
Bob: Em não-dualidade, em um-sem-um-segundo, não apenas o uno, apenas pura consciência de presença, como pode a experiência conhecer a si mesma? Ela é completa; ela é inteira; ela é perfeita.
Para re-experienciar aquilo, ela coloca um véu de ignorância sobre si mesma ao vibrar em diferentes padrões com experiências e expressões através desses diferentes padrões. Então ela retorna e vem a conhecer a si mesma novamente, voltando à sua completude. A tradição Hindu a chama de dança de Shiva, a brincadeira de Deus, Lila, ou o esporte de Deus.
Assim, em realidade, nada jamais aconteceu.
Padrões de energia aparecem. Ainda é a mesma energia-inteligência. Padrões de energia parecem exatamente o mesmo quando os reflexos surgem no espelho. O que aconteceu ao espelho?
Participante: Nada! Existe a mente ou várias mentes?
Bob: Só pode haver uma mente, se é que há tal coisa. A mente também é uma aparência! Assim ela pode aparecer como muitas.
Participante: Eu conheço a mim mesmo através da mente ou isso é independente da mente?
Bob: O único instrumento que temos é a mente. Mas, é preciso compreender que você não pode jamais apanhar isso com a mente. Porque isso contém a mente; a mente não pode jamais contê-lo.
Participante: E o sentimento ou o pensamento ‘eu sou’?
Bob: Ele é o pensamento primário a partir do qual todo o dualismo aparece. Tão logo exista ‘eu sou’, deverá existir ‘você’ ou ‘o outro’.
A idéia ‘eu sou’ é a causa de todos os nossos aparentes problemas.
Esse senso de presença está expressando a si mesmo através da mente, mas anterior a esse pensamento, você sabe que você é, não sabe? Você não fica constantemente pensando ‘eu sou’ durante todo o tempo, fica? Você sabe que está sentado aqui. Você está consciente de estar presente, continuamente.
Participante: E quando eu estou em sono profundo? Aí eu não estou consciente.
Bob: A mente está em suspensão durante o sono profundo, mas aquele funcionamento sem esforço ainda está acontecendo.
A mente não está lá. Aquele funcionamento ainda está respirando você. Ele ainda está fazendo o sangue fluir através do corpo. As unhas continuam a crescer. Tudo isso não pára com a ausência da mente.
A consciência pessoal, ou a mente, movimenta-se naquele sono profundo, e você começa a sonhar antes de acordar. Nesse sonho você cria um mundo, e você se vê tomando parte ativa nele. Pode ser em uma vila, uma cidade, uma sala ou no campo. Você pode sonhar todo tipo de coisas. Pode haver outras pessoas lá.
Pode haver carros, animais ou qualquer coisa, e você se vê tomando uma parte ativa. Contudo, aquele corpo não se moveu da cama. Todo esse mundo aparente aconteceu naquele pequeno espaço entre seus ouvidos. Se você continuasse a sonhar toda noite e o sonho continuasse de onde parou na noite anterior como parece acontecer no estado de vigília, você poderia dizer a diferença entre o estado de sonho e o estado de vigília?
Portanto, o mundo é alguma outra coisa senão mente? Que substancia tem a mente? Que substancia tem um pensamento? Aquele pensamento ‘eu sou’ é o que você acredita ser você. A mente pode existir por si mesma? Se você não fosse consciente, se essa consciência não estivesse lá, você poderia ter um único pensamento?
Participante: Eu não sei!
Bob: Bem, você acabou de dizer que mesmo em sono profundo, você não estava consciente disso. Nenhum pensamento.
A mente é dependente da consciência ou da atenção ou como quer que você queira chamar aquela pura energia-inteligência. Assim aquilo deve ser primário, aquilo deve ser a realidade, não o pensamento ‘eu sou’ como tal.
Participante: A consciência (pessoal) é dependente de alguma outra coisa?
Bob: Ela também é apenas um movimento na Consciência (universal). Todo esse mundo aparece naquela Consciência. Todo esse mundo é o conteúdo da
Consciência. Portando, ele não pode ser nada mais do que Consciência.
Não há nada que você possa pensar, conceber, perceber ou postular fora da Consciência.
Mesmo se você estiver falando sobre outros universos ou outros sistemas solares, no momento em que você pensa ou fala a respeito deles, você os trouxe para dentro da Consciência. Quando aquela consciência (pessoal) de ‘pensar e falar’ está fora da estrada, existe a inteligência pura. Ela simplesmente brilha por si mesma.
Participante: Então a consciência é parte do universal?
Bob: A coisa inteira é o universal, se você examina de perto. Nada de partes. Consciência, o absoluto, atenção, mente, são uma e a mesma coisa em diferentes aspectos. Como a água: primeiro você tem vapor de água, depois o estado de água liquida e depois gelo.
Existem três aspectos diferentes de uma mesma coisa, que é a água. Assim, ela continua não mudando nunca daquele não-dual um-sem-um-segundo. Pegue esse fato e permaneça com ele.
Não interessa o que apareça. Isso ainda é o Uno. Então aquele senso de separação não pode mais permanecer lá.
Participante: Como podemos então entender o crescimento populacional? Se tudo é um e nada pode ser tirado ou acrescido, como explicamos o crescimento populacional?
Bob: Bem, ela pode vibrar em miríades e miríades de padrões.
Participante: Isso implica que algo mais está faltando?
Bob: Não. O que é algo mais? Ele ainda é a única e mesma energia-inteligência! Dizem que esse universo como o conhecemos começou como um átomo ou um quark ou algo instantâneo. Toda essa energia começou daquilo. De nosso ponto de vista, ele ainda está se expandindo, e aquele assim-chamado começo original está a quinze bilhões de anos luz atrás.
Em uma gota de água há miríades de formas de vida.
Dentro daquela vida há mais vida em uma escala menor. Saindo para o espaço, de onde a Terra é apenas um grão de poeira, já há um ponto de referencia bem diferente. Agora, de onde tudo é julgado? Ainda está tudo dentro daquela Unidade. Para obter um julgamento verdadeiro disso, você teria que se posicionar fora.
Isso é impossível!
As diferenças de escalas de tempo entre a vida na gota de água, a vida como nós a experienciamos e a vida lá fora no espaço profundo são amplamente diferentes. A vida de uma célula possivelmente não poderia conceber nossa vida de cem anos. Tudo é relativo ao ponto de referencia tomado. Nosso ponto de referencia é sempre aquele ‘mim’ ou ‘eu’, mas somados a ele estão eventos ou experiências do que aconteceu ontem ou na ultima semana ou no ultimo ano ou quando eu nasci. Eles são somados àquela pura imagem ‘eu’. Isso construiu essa imagem de que eu sou uma boa pessoa ou uma má pessoa ou que eu tenho baixa auto-estima ou de que estou com raiva ou com medo.
Aquele próprio senso de ‘eu’ é separação. Aquele próprio senso de separação é insegurança. E sendo nós a totalidade, o potencial ilimitado de ser, imediatamente tornamo-nos um ser humano isolado, separado, com todas as suas limitações.
Construímos essa prisão mental ao redor de nós próprios. Agora, tudo é julgado a partir daquele ponto de referencia (o qual é baseado no ‘ontem’, no passado). Você vê que o que quer que tenha acontecido a mim é julgado daquele ponto de referencia e eu devo considerá-lo ‘bom’ ou ‘mal’. Nosso critério, nosso ponto de referencia nunca é correto, nunca é verdadeiro. Vendo isso, compreendendo isso, onde isso o leva? Isso só pode levá-lo ao aqui, agora, consciente, na atualidade desse momento.
Isso é o real! Esse é o real! Esse é o real! Esse é o real!
Participante: Então, somos inteiros, completos – sem nada que se precise exceto no pensamento - alem da insegurança e da neurose.
Bob: Sim. Se não há nenhum pensamento, o que está errado com o agora, se você não está pensando sobre isso! Se tudo é apenas como é – inalterado, não-modificado, não-corrigível – o que é isso? Isso é apenas como é!
Apenas uno, como é!
Participante: Isso coloca seus sonhos em uma diferente perspectiva. Eles são reais! (...)
Bob: Parece muito real, mas quando isso é visto como um sonho, você não é mais aprisionado por ele. É justamente o mesmo quando você vê a falsidade do auto-centro, que ele não tem nenhuma realidade também, então você não está mais aprisionado por aquilo e isso é liberdade. Isso é liberdade da
aparente ‘prisão do self’.
Participante: Eu estava exatamente pensando que minhas experiências passadas são úteis se a necessidade surgir.
Bob: Sua memória está lá para ser usada. Ela é útil. Mas quando a memória vem e continua e continua, ela começa a usar você. Ela o fará amedrontado, ansioso, deprimido ou o que seja. Ela está usando a auto-imagem que você tem de si mesmo. Se aquela memória não é boa, então ‘eu não quero ser assim’ aparece. Então você cria outra imagem no futuro quando você irá escapar de tudo isso.
Como dissemos antes, a mente não é o inimigo apenas porque ela causa todos os problemas. Se isso é compreendido claramente, então ela estará lá para o que deve estar. Ela é um lindo e criativo instrumento. Mas quando ela acredita que está fazendo o show, os problemas surgem.
A mente está muito alinhada com a pura energia-inteligência. E por nunca ter sido questionada, ela vem a acreditar que é o poder: ‘eu sou mim’, ‘eu estou fazendo o show!’
Mas quando você a examina mais de perto você vê que tudo que ela é, é uma imagem, uma idéia, e por si mesma não pode fazer nada. De fato, ela depende da pura energia-inteligência.
Agora, exatamente agora, você está ouvindo e vendo. Por acaso o ouvir diz, ‘eu ouço’? O ver diz, ‘eu vejo’?
O que é que diz essas coisas? A mente!
Assim, ao dizer essas coisas, a mente deu a si mesma o poder, acreditando que ‘eu estou fazendo algo’. Vamos olhar mais à frente. O pensamento ‘eu vejo’, ele vê? O pensamento ‘eu escuto’, ele escuta? Então, essa é a prova de que a mente não tem nenhum poder.
Contudo você ainda está vendo. Você ainda está escutando. Sem esforço o funcionamento está acontecendo, está seguindo. Sem esforço, a pura energia-inteligência está borbulhando através desse aparato psicossomático, desse corpo-mente, desse padrão de energia. Você vê que todas as atividades estão acontecendo."
Bob Adamson em Satsang
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