Harmonia Oculta...


"A harmonia oculta é superior à aparente.
A oposição traz concórdia.
Da discórdia nasce a mais bela harmonia.
É na mudança que as coisas encontram repouso.
As pessoas não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda.
Há uma harmonia de tensões contrárias assim como a do arco e da lira.
O nome do arco é vida, mas sua função é a morte.
Em seus momentos despertos os homens são tão negligentes
e descuidados com aquilo que os circunda como o são quando adormecidos.
Tolos! Embora ouçam, são como surdos;
a eles aplica-se o adágio: mesmo presentes estão sempre ausentes.
Não se deve agir ou falar como os que dormem.
Os despertos têm um mundo em comum;
os adormecidos, cada um o seu próprio mundo privado.
Tudo o que vemos quando despertos é morte, quando adormecidos, são sonhos.
...
É próprio a todos os homens o conhecer a si mesmo e ser moderado.
Ser moderado é a maior virtude.
A sabedoria consiste em falar e agir segundo a verdade, observando cuidadosamente a natureza das coisas.
Ouvindo a mim, embora não ouça o Logos, é sábia admitir que todas as coisas são uma só.
A sabedoria é uma só — conhecer a inteligência pela qual todas as coisas são dirigidas por todas as coisas.
A sabedoria é una e única; relutando e todavia almejando ser chamada pelo nome de Zeus.
...
Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e desejo.
A água do mar é muito pura e, ao mesmo tempo, muito suja: é bebível e saudável para os peixes, mas imbebível e mortal para os homens.
A natureza do dia e da noite é uma só.
A subida e a descida são uma e a mesma.
Mesmo os que estão adormecidos trabalham e colaboram com o que acontece no universo.
No círculo, o princípio e o fim são comuns.
...
No mesmo rio nós pisamos e não pisamos.
Não se pode pisar duas vezes no mesmo rio.
Tudo flui e nada permanece.
Tudo cede e nada se fixa.
As coisas frias tornam-se quentes e as quentes, frias.
O úmido seca, o ressecado umedece.
E pela doença que a saúde dá prazer, pelo mal que o bem apraz, pela fome, a saciedade;
pela exaustão, o repouso.
É a mesma e uma só coisa estar vivo ou morto, desperto ou adormecido, jovem ou velho.
Em cada caso, o primeiro aspecto torna-se o último, e o último, novamente o primeiro,
por uma súbita e inesperada reversão.
Eles se separam e depois se unem novamente.
Tudo vem na estação certa.
No mesmo rio nós pisamos e não pisamos."
Harmonia Oculta por Heráclito

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