Silencio e Plenitude 2/2 - Swami Dayananda


"Eu sei que silêncio não é algo desconhecido para mim. Ele apenas parece vir e ir-se porque parece que os pensamentos criam agitação. Eu tomo os pensamentos como sendo eu mesmo e me torno agitado devido ao pensar mecânico. 

A profunda acumulação de gostos e aversões, de idéias não digeridas e 
não assimiladas causam tantos conflitos e frustrações que a mente se torna mecânica. Ela reage em vez de agir. 

Quando um pensamento surge, e este pensamento me conduz a outro pensamento e este pensamento de novo me leva a outro pensamento, eu experimento um momento mágico de agitação.
Em tal pensar mecânico e irrefletido, eu tomo o próprio pensamento como sendo eu mesmo. Eu esqueço de mim. Então, quando o pensamento se vai, eu, de repente, retorno a mim mesmo e percebo um momento de silêncio. Portanto, o silêncio parece vir e ir-se. 
Mas, se eu analisá-lo, poderei verificar que o problema não se trata de descobrir o silêncio, mas de destruir o pensar mecânico.

Um pensamento vem e vai. Antes dele vir, havia silêncio e, depois de ele se ir, há silêncio. De novo, depois de outro pensamento, há silêncio. Entre pensamentos, há silêncio. 

Silêncio não é algo pelo qual eu deva lutar.
Pensamentos vem e vão. O silêncio é sempre. E ainda assim não o percebo. O que isto significa? Não o percebo porque caminho sobre pensamentos. Eu sou levado pelos pensamentos.

Eu não percebo o silêncio quando há um acúmulo de pensamentos criando um momento mágico. Eu caminho sobre os pensamentos. Não atinjo o chão. Minha mente, por alguma associação, pula de um pensamento para o outro. A 
associação pode ser um simples som, mesmo uma rima. O significado de uma palavra também pode trazer à mente muitas outras palavras. Do mesmo modo que macacos saltam e agarram o próximo galho, eu também agarro o primeiro 
pensamento e largo o último. É por isso que a mente é chamada de macaco. Eu preciso aprender a quebrar a magia desta viagem mecânica sobre pensamentos e descobrir o silêncio entre dois pensamentos. Isto deveria se tornar um costume para mim.

Eu deveria me proporcionar uma situação na qual pudesse 
desenvolver a capacidade de estar comigo mesmo a despeito do pensar. Esta situação especial é chamada meditação.

O que é meditação? Eu estou meditando quando removo todos os pensamentos? Suponha que eu tente remover todos os pensamentos. Então, o que acontece quando um pensamento surge? O silêncio se foi. Eu terei problemas, porque a chegada de um pensamento se torna um problema. Posso eu ter uma mente que nunca pensará? Eu pediria a Deus: “Oh, Deus, dá-me uma mente que jamais pense.” Por que iria Ele então me dar uma mente? 
A mente é para pensar. Pensar não cria problemas. É uma bênção ter ganho uma mente. Fazer pensamento virar pesadelo é a coisa mais tola que alguém pode fazer.

Se você pensa que meditação é a ausência de pensamentos ou ter visões engraçadas, eu diria que isto é “maditation”. (risos...)
Ter visões engraçadas não é meditação, remover pensamentos não é meditação. Se eu procuro remover todos os pensamentos, eu apenas me torno frustrado e me condeno como inútil porque não consigo fazer isto. Ao tentar ser “espiritual”, eu me torno tão frustrado comigo mesmo que me torno uma pessoa com a qual é impossível se estar. Eu não consigo suportar alguém conversando. Eu não consigo suportar qualquer coisa porque tudo cria pensamentos em mim.

Desenvolvendo a capacidade
Qualquer processo de pensamentos é uma corrente de muitos e variados pensamentos. Nesta corrente, sempre há uma probabilidade de se ser levado pelos pensamentos, uma forma superficial, reativa e mecânica de pensar. Mas agora eu vou fazer algo com a minha mente enquanto tiver muitos pensamentos, ao mesmo tempo, descobrirei o silêncio entre os pensamentos.

Como é que eu faço isto? Em vez de ter muitos e variados pensamentos, eu crio pensamentos que são muitos em número mas que são todos idênticos. Se o segundo pensamento for igual ao primeiro e o terceiro for igual ao segundo, não se cria uma corrente de pensamentos cativante. Não há associação, apenas pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. 
Após o primeiro pensamento, o que existe? Silêncio. 
Após o segundo pensamento? Silêncio. 
Terceiro pensamento? Silêncio. 
Quarto pensamento? Silêncio. 
O que é que estou fazendo agora? Aprendendo. Aprendendo o quê? - A 
capacidade. 
Do quê? - De ser silêncio. Entre o quê? - Pensamentos. 

É uma capacidade, assim como aprender a andar de bicicleta ou a nadar.
Aquele simples pensamento pode ser repetido como uma 
palavra. 
O que poderia ser aquela palavra? Ela deveria ser significativa ou sem significado? Se eu tomo uma palavra sem significado e começo a repeti-la, a mente me diz que eu estou fazendo algo sem sentido.Portanto, eu deveria escolher uma palavra com um significado, algo significando o Todo, o coração da criação. Algo que não seja uma das coisas da criação. E por ser uma palavra que é cheia de significado para mim, todo o ensinamento pode ser visto naquela palavra simples. 

Qualquer palavra que você reconheça como sendo o nome do Senhor, uma palavra que, enquanto você a repetir, faça você apreciar a si mesmo, é ótima. Deveria ser uma palavra cheia de significado na qual você esteja incluído.

A palavra pode ser Om, uma palavra que inclui tudo, tanto em seu som como pelo seu significado. 
Ele tem os sons “A”, “U”, “M”. 
“A” refere-se ao o mundo físico. 
“U” refere-se ao mundo dos pensamentos. 
“M” refere-se ao não-manifesto. 
Portanto, toda criação e sua base, tudo está contido na sílaba Om.
A palavra que você escolhe pode ser outra. Ela poderia ser Jesus, ou você pode dizer “Om namah sivaya.” 
Namah significa “eu saúdo”. Siva significa “todo auspicioso”, aquilo que é todo ananda. Portanto, “Ao Senhor, ofereço minhas saudações.” 
Tais palavras formam uma prece. Se eu precisar, estas palavras são muito úteis. Desde que as palavras tenham um significado, elas podem ser quaisquer.

Om. Om. Om. Há alguma conexão entre elas? - Não, porque cada uma é completa. O pensamento é o mesmo, repetido numerosas vezes. E a repetição precisa existir. 
Por que? - Por que não dizer apenas um único Om? Porque para descobrir o silêncio entre os pensamentos eu preciso, necessariamente, ter muitos pensamentos mas não pensamentos diferentes.

Ter diferentes pensamentos significa que os pensamentos formam uma corrente e eu não vou descobrir o silêncio numa cadeia de pensamentos. Portanto, eu me abasteço com um único pensamento muitas vezes. Eu não crio uma corrente mas, ao mesmo tempo, eu vejo muitos pensamentos. O 
primeiro não é diferente do segundo e o segundo não é diferente do terceiro. Assim eu crio para mim uma situação em que descubro o silêncio entre os pensamentos. Eu não posso deixar de percebê-lo.

Quando canto Om, o que vem depois? Silêncio. Om. Silêncio. Om. Silêncio. 

E eu faço tudo isto para ver que sou silêncio apesar de ter dois pensamentos sucessivos. Esta nova ocupação, chamada meditação, me ajuda a descobrir com facilidade que eu sou sempre o mesmo. 
A despeito de todas as ações realizadas, percepções sentidas e pensamentos 
mantidos, permaneço o mesmo ser livre que é silêncio e não realiza qualquer ação."

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