Discernimento e Verdade - Monja Coen


"Acordávamos antes dos pássaros. 
Os insetos chilreavam enquanto nós sentávamos em meditação. 
No silêncio de nossas bocas, ouvíamos o primeiro piar anunciando a manhã. Assim passávamos os dias. De meditação em meditação, silêncio e orações. Plena atenção aos gestos, passos, olhos baixos.

Havia dor. A dor do corpo não acostumado a tantas
horas na mesma posição e a dor da tristeza, da saudade, da incerteza, da culpa.

Havia a dúvida. Havia o medo de perder a razão. Como
se perde a razão? Primeiro seria de bom senso encontra-lá.

Em um vitral da sala em que meditávamos, estava
escrito: 
“Não há religião superior a verdade”. 

Era o que nós tentávamos encontrar, a verdade. 
Verdade sobre nós mesmos. 
Mas ela deveria ser clara e luminosa, afastando a ignorância, a ganância, a raiva, o rancor.

Esperando o momento de me levantar, com as pernas
doendo, contando cada inspiração, eu me esquecia de meu propósito e de minha busca. 

Parece tão simples e é tão difícil. Poucos conseguem, bem poucos se interessam. Queremos sempre ser entretidos. 
Gostamos de entretenimento. Pode ser televisão, filme, música, teatro, leitura. Podem ser encontros, festas, conversas. Podem ser amores e desamores, afetos e desafetos, brigas, ciúmes, inveja.

Perceba suas emoções, seus pensamentos, sensações.
Discernimento é uma palavra que os padres e as monjas gostam muito. Responsabilidade. Escolha.

À noite, antes de ir dormir, antes do último e
delicioso toque do sino, que nos permitia levantar, com voz lenta e dramática foi declamado: 
Vida e morte 
são de suprema importância. 
O tempo rapidamente se esvai e a oportunidade se perde. 
Cada um de nós deve se esforçar para acordar, para despertar. 
Não desperdice a sua vida.”

Saíamos da sala em silêncio. Alguns ouvindo tudo,
outros nada. Mas a verdade incessante não deixava de ser proclamada. 
Está sempre em toda a parte e, no entanto, sem abrir o olho da sabedoria, nada entendemos.(...)

Reiteramos nossa parceria. Agradecemos os momentos que juntos compartilhamos, as primeiras flores, os primeiros frutos ainda não muito doces, que colhemos na jornada, espalhando sementes ao vento, cuidando do solo, do céu, das águas e do nada...
Monja Coen Sensei em Palavras do Dharma

Comentários