O Diálogo no silêncio...
Havia um mosteiro Zen nas distantes montanhas do Oriente. Ele era cuidado por dois irmãos.
O mais velho era um sábio, e era também o administrador do mosteiro, e seu irmão mais novo era um novato, pouco sabia sobre os ensinamentos de Budha, e só enxergava de um olho.
Certa noite um peregrino bateu a porta do mosteiro pedindo pernoite. Era comum acolherem peregrinos por uma noite apenas, mas primeiro o peregrino tinha que vencer o debate com o monje do mosteiro sobre os ensinamentos de Budha.
O mais novo recebeu o peregrino e avisou a seu irmão que teriam que debater com ele primeiro.
O mais velho teve então uma idéia.
Disse ele: -Vá você no meu lugar. Estou ocupado e não posso agora.
- Mas ainda sou novato, não conheço bem os ensinamentos de Budha, vou perder, e teremos que dar abrigo a esse estranho, disse o mais novo.
- Não tem problema, disse o mais velho. Sugira ao homem antes que começarem que se faça o debate em silêncio. Nenhuma palavra. E não terá como você não vencê-lo.
E assim foi feito.
O peregrino inicia e levanta o dedo indicador, fazendo o número 1.
O mais novo então levanta o indicador e o dedo médio, fazendo o número 2.
O peregrino então levanta os indicador, o médio e o anelar, fazendo o número 3.
O mais novo então fecha o punho em frente ao rosto do peregrino.
Assim, o peregrino fica maravilhado. Agradece imensamente tamanha sabedoria, e vai ter com o irmão mais velho, para dar os parabéns por ter um irmão tão sábio.
O irmão mais velho fica surpreso, pois sabia que seu irmão não era tão sábio sobre o Dharma ( os ensinamentos de Budha), e tinha quase certeza que seu irmão perderia o debate. Ele pede então que o peregrino traduza o diálogo para ele.
-Primeiro mostrei o dedo indicador: que indicava o Budha.
-Seu irmão prontamente me lembrou do dois: Budha e os ensinamentos do Dharma.
-Daí que completei com o três: Budha, Dharma e a Sangha ( todos os seguidores do Budha).
- Seu irmão então prontamente num gesto de profunda sabedoria fecha o punho coloca frente ao meu rosto, me indicando que tudo é a Unidade, somos todos o Um sem segundo.
-Fiquei impressionado! Ainda tenho muito que me aprofundar no Dharma. Sou grato e vou-me agora. E partiu o peregrino com o coração radiante por tamanhos ensinamentos recebidos em total silencio.
O irmão mais velho foi ter com seu irmão para ouvir a versão dele sobre o diálogo no silencio e foi isso que ele ouviu:
- Primeiro aquele homem levanta um dedo, me lembrando que eu só tenho um olho.
- Irritado levantei dois dedos, pois ele se gabava que tinha os dois olhos perfeitos.
- No maior do atrevimento ele levanta três dedos, me lembrando que nós dois juntos tínhamos três olhos bons.
- Nessa altura a minha raiva era tanta que fechei o punho e o ameacei de dar um soco na cara dele!
- Para meu espanto ele me cumprimentou, sorriu e disse que eu havia vencido o debate. Fiquei sem entender nada. Ainda acho que ele ficou com medo de mim e fez tudo isso para disfarçar. Que se vá mesmo! Sujeito estranho esse aí!
O irmão mais velho sorriu, abaixou a cabeça, e percebeu mais uma vez, como que a mente sempre interpreta a sua própria maneira a realidade que se apresenta.
Nada mais a dizer...
Conto Zen
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