A Nascente - O. M. Aïvanhov


"Já vos falei muitas vezes da nascente e não somente da pequena nascente das montanhas, mas dessa nascente muito mais poderosa, a nascente única: o sol. Infelizmente, quando se observa os humanos, percebe‑ se, em função dos seus raciocínios e das suas atitudes, que eles nunca se preocuparam com a nascente, com o ponto que vibra, que brota, que projeta. 

Eles dirão: «Mas o que é que pode trazer‑nos o fato de nos determos nessa imagem da nascente?» Coitados! Talvez sejam eruditos, mas não viram o essencial.

Não viram que toda a orientação da sua existência e dos seus atos depende
exclusivamente da imagem que colocaram na sua cabeça. Eles escolheram imagens vivas, jorrantes, como a nascente, como a fonte, como o sol, ou imagens mortas como o pântano? Tudo reside nisto. Em função das observações que faço diariamente, como a nascente, eu descubro que tudo depende da escolha que o homem faz, do ponto de vista simbólico, entre a nascente e o pântano; esta escolha revela a sua compreensão da vida.

Ouve‑se muitas vezes as pessoas queixarem‑se de que tudo lhes corre mal. E por que é que tudo lhes corre mal? Porque elas não entenderam que no seu intelecto, na sua alma, deveriam ter colocado em primeiro lugar o que existe de mais puro e de mais divino – a nascente –, para que esta nascente, ao correr, purifique tudo neles e faça crescer todas as suas sementes divinas. 

Nos seus pensamentos e nos seus desejos não se sente esta preocupação essencial com um centro, uma nascente, um sol, um espírito, um amor. Elas detiveram‑se em coisinhas insignificantes e não conseguem compreender, não querem compreender. Chafurdam continuamente em águas estagnadas e poluídas onde se agita toda a espécie de animalejos e até zombam da filosofia dos Iniciados, que insistem sempre na importância mágica da ligação à nascente, à fonte. Como podem elas estar convencidas de que o que está a apodrecer, a criar bolor, a desagregar‑se, vai ajudá‑las?

Há quem não compreenda por que é que nós vamos ver o sol nascer... É simbólico, é para conseguirmos perceber que em todos os domínios da vida devemos ligar‑nos ao sol, quer dizer, à fonte. Mas tentai convencer todas essas pessoas “inteligentes” a ir ver o nascer do sol! Elas dirigem sempre a sua atenção para o que está morto, estagnado, poluído, e depois, quando lhes acontecem infelicidades, perguntam porquê. É porque têm nelas impurezas, porque não tomaram a nascente como modelo!

Eu pergunto a alguém: «Já viu uma nascente? Pode dizer‑ me o que se passa junto de uma nascente?» «– Claro que sim!», responde a pessoa. Mas, na realidade, ela não observou bem... Por isso, eu faço perguntas: «Então, o que
há à volta da nascente? – Plantas, vegetação. – E mais? – Insetos, aves, animais. – E além disso? – Também há homens que vieram instalar‑se. – Muito bem. 
E já reparou no que se passa quando a nascente seca? A erva
desaparece imediatamente, depois os animais, depois os homens. As árvores são o que resiste mais tempo.

Compreendeu realmente tudo isto? –
Claro que sim, é muito simples. – Então, por que é que deixou secar a sua nascente? – Qual nascente? Não compreendo...»

Como vedes, a pessoa não compreende. As pessoas creem sempre que compreendem, mas isso só acontece aparentemente. Então, eu digo: «Estou
a falar da nascente que jorra no seu interior. Por que a deixou secar? –
Qual nascente? Eu não deixei secar nascente nenhuma. – Sim, deixou secar
a sua nascente: já não tem amor.
Alguém o ofendeu, lesou, roubou ou enganou um pouco e você disse: «Acabou‑se! Não voltarei a ser generoso, bom, caridoso, não vale a pena, os homens não merecem.» E agora a sua nascente já não corre.
Evidentemente, já ninguém o enganará ou o lesará e você julga ter ganho alguma coisa, mas, na realidade, perdeu tudo. Deveria ter continuado a deixar‑se enganar, se necessário, o importante era que a nascente nunca secasse! Alguém o ofendeu, o roubou, mas isso não é nada comparado com a bênção que é ter em si uma nascente que corre, pois ela traz‑lhe tudo, limpa tudo, restabelece tudo.»

Os humanos têm necessidade desta filosofia, a mais maravilhosa, a mais verídica: a filosofia da nascente... 
Com a desculpa de que sofreu uma pequena injustiça, uma pessoa decide já não ter amor por quem quer que seja; então, acabou‑se!, ela fica morta. E um morto, o que é que ganhou?
É formidável a maneira como os humanos raciocinam! E é junto deles que eu
deverei ir instruir‑me? O que é que aprenderei? Irei é junto de uma nascente, ficarei horas inteiras a escutá‑la, a olhar para ela, a tocar‑lhe, a falar com ela, e em seguida pensarei nessa outra fonte, o sol, e em todas as nascentes do
universo, até à única verdadeira nascente, que é o próprio Deus, irei ligar‑me a Ele para compreender finalmente o essencial. 
Perguntareis: «Mas o que é que se pode compreender junto de uma nascente?»... Tudo! (...)

A nascente é a vida, é o amor, e o amor é omnipotente, é ele que faz nascer todas as inspirações, todas as alegrias. Não há maior verdade. Eu sei bem que, apesar de todas as verdades que ouvem há anos, muitos de vós estais num triste estado; é porque não tendes qualquer método de trabalho. O que quer que escuteis, quaisquer que sejam as verdades que poderiam ajudar‑vos, não anotareis nem fixareis nada. Se escrevêsseis pelo menos uma verdade e a colocásseis diariamente diante dos vossos olhos para a verdes, para estardes em contato com ela!... (...)
Graças a esta nascente – o amor, a vida, a água viva – tornamo‑nos um instrumento perfeito nas mãos do Senhor."

O.M Aivanhov em Os Segredos do Livro da Natureza
[ enviado por Margelino Semião - amigo e colaborador do blog - Gratidão! ]

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