Todos os Dharmas - Thich Nhat Hahn 3/3


"Precisamos ser humildes. “Dizer que não sabe é o começo do conhecimento”, é um provérbio chinês.

Um outono, eu estava em um parque, absorvido na contemplação de uma bonita folha muito pequena, na forma de coração. Sua cor era quase vermelha, e estava por pouco pendurada no galho, quase pronta para cair. Eu fiquei um bom tempo com ela e perguntei à folha muitas questões. Eu descobri que a folha tinha sido uma mãe para a árvore. Usualmente pensamos que a árvore é a mãe da folha. 


A seiva que as raízes captam é apenas água e minerais, e não é boa o suficiente para nutrir a árvore, portanto a árvore distribui a seiva para as folhas. E as folhas assumem a responsabilidade de transformar a seiva bruta na seiva elaborada e com a ajuda do sol e gás, a devolvem de forma a nutrir a árvore. Portanto as folhas são também a mãe da árvore. E como a folha é ligada à árvore por um talo, a comunicação entre elas é fácil de ver.

Não temos mais um talo nos ligando à nossa mãe, mas quando estávamos no seu útero tínhamos um longo talo, um cordão umbilical. 

O oxigênio e os nutrientes que precisávamos vinham para nós através desse talo. Infelizmente, no dia que chamamos de dia do aniversário, ele foi cortado e recebemos a ilusão que éramos independentes. Isto é um erro. Continuamos a depender de nossa mãe por um longo tempo, e temos muitas outras mães também. A Terra é nossa mãe. Temos muitos grandes talos nos ligando à nossa mãe Terra.

Há um talo nos ligando com a nuvem. Se não houvesse nuvem, não haveria água para bebermos. Somos feitos de pelo menos setenta porcento de água e o talo entre a nuvem e nós está realmente presente. Há também a mesma situação com o rio, a floresta, o lenhador e o fazendeiro. 

Há centenas de milhares de talos nos ligando a tudo no cosmos de forma que possamos existir. Você vê a ligação entre você e eu? Se você não estiver aí, eu não estaria aqui. Isto é certo. Se você não vê isso ainda, olhe mais profundamente e tenho certeza que verá. Como disse, não é filosofia. Você realmente tem que ver.

Eu perguntei para a folha se ela tinha medo porque era outono e as outras folhas estavam caindo. 

A folha me disse, “Não. Durante toda a primavera e verão eu estava viva. Trabalhei duro e ajudei a nutrir a árvore, e muito de mim está na árvore. Por favor, não diga que eu sou apenas esta forma, porque a forma da folha é apenas uma pequena parte de mim. Eu sou a árvore inteira. Sei que já estou dentro da árvore e quando eu for de volta ao solo, continuarei a nutrir a árvore. É por isso que não me preocupo. Assim que eu deixar o galho e flutuar ao solo, acenarei para a árvore e direi a ela, "Te verei novamente em muito em breve`” .

Logo eu vi um tipo de sabedoria muito parecido com a contida no Sutra do Coração. Você tem que ver a vida. Não deveria dizer a vida da folha, deveria apenas falar na vida na folha, na vida na árvore. Minha vida é apenas Vida, e você pode vê-la em mim e na árvore. Naquele dia havia um vento soprando e depois de um tempo via a folha deixar o galho e flutuar para o solo, dançando alegremente, porque enquanto flutuava olhava para si mesmo já na árvore. Ela estava muito feliz. Curvei minha cabeça e sabia que havia muito a aprender da folha porque ela não tinha medo – ela sabia que nada pode nascer e nada pode morrer.(...)

Amanhã eu continuarei a ser. Mas você terá que ser muito atencioso para me ver. Eu serei uma flor ou uma folha. Eu estarei nessas formas e direi alô para você. Se você tiver atenção suficiente me reconhecerá e poderá me cumprimentar. Eu ficarei muito feliz."

Tich Nhat Hahn em The heart of undestanding
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