Ser Universal - Ramana 1/2



"Uma pessoa se conhece a si mesmo e é conhecida por outros através de seus marcados gostos e aversões. No entanto, nem todos estes são conscientes, estando muitas vezes presentes a nível do inconsciente e não sendo conhecidos pelas próprias pessoas. 

E a pessoa é dependente desses gostos e aversões. 
As suas expressões na vida em termos de seus objetivos e respostas a situações são determinadas por seus gostos e aversões. Enquanto gostos e aversões mantiverem a pessoa sob controle, haverá dependência de determinadas situações. 
A pessoa deseja a ausência de situações indesejáveis e a presença de situações desejáveis. 

Contudo, ao mesmo tempo, há um amor pela liberdade, por independência. Amor por liberdade é encontrado até mesmo em uma criança. 
Quando é dito à ela : “- Não faça isso !”, ela tentará insistir e se não for possível começará a chorar. A criança que começa a andar, ao ficar em pé, quer andar sozinha sem nenhuma ajuda, mesmo sabendo que poderá vir a cair. 

O amor pela liberdade é inato e ninguém está satisfeito até que seja totalmente livre. Ninguém é bem sucedido a não ser que esta urgência pela liberdade seja satisfeita.

Este amor pela liberdade, pela independência, acoplado ao fato de que a pessoa está amarrada a seus gostos e aversões, gera uma sensação de desemparo, pois a liberdade, a ade­quação, depende da satisfação dos gostos e aversões pessoais. 

Então a pessoa torna-se desesperada e frustrada; e, se ainda não o é, é por causa da esperença de satisfazê-los. Agora, se a pessoa recebe o seguinte conselho: abandone todos os gostos e aversões, isto não irá adiantar. 

Ela desenvolverá um novo gosto: “Eu não devo ter gosto e aversões” e uma nova aversão: “Eu sou um inútil, pois não consigo me desfazer deles”. 
O conselho, claro, é um conselho espiritual. Este conselho é inútil porque ninguém mantém gostos e aversões por escolha, a pessoa é gostos e aversões!

Os Vedas dizem: “Você é colocado em uma certa situação, em um certo esquema. Cumpra o seu papel como uma pessoa relativa”. 

Qualquer relacionamento envolve mais de um. Aqui há o indivíduo e o mundo. Como indivíduo a pessoa vê a si mesma como uma pessoa relativa. Este é um fato inevitável. 

Podemos dizer que há relacionamentos próprios e relacionamentos impróprios. Você vê a natureza por vários aspectos e você encontra um certo tipo de arranjo. Animais, árvores, plantas, pássaros, etc, de um determinado ambiente, são específicos ao local onde eles se encontram. 
Por exemplo, o camelo é uma maravilha; muitas das regras de comportamento que são encontradas na maioria dos animais, não são observadas em um camelo, pois só assim ele poderá sobreviver num deserto. Ele se mistura, adapta-se ao seu ambiente. Todas as plantas e animais estão em harmonia com a natureza; eles foram programados para isso. 

Possuidor da capacidade de escolha, o ser humano tem que decidir o que é certo e o que é errado em qualquer situação. 

Quando a escolha é adequada, a pessoa está sintonizada com a situação, está sintonizada com a ordem - a ordem do adequado e inadequado. Esta ordem é chamada DHARMA.

Eu quero viver e fazê-lo de forma feliz. Eu não quero que o meu vizinho faça qualquer coisa que me perturbe. Da mesma forma eu não faço nada que venha a atrapalhar a vida do meu vizinho. 

Esta é a base para uma ética de bom-senso. 

Através de considerações semelhantes eu não ofendo, engano ou iludo os outros ou roubo coisas de alguém. Um grande número de valores torna-se natural quando observo a mim mesmo. 

Aquilo que eu desejo torna-se um valor pessoal e aquilo que eu não desejo torna-se uma coisa ou situação a ser evitada. Tudo isso é confirmado pelos Vedas." [ continua....]
Ramana Maharshi em Essence of The Teaching by Ramana Maharshi 
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