Osho fala sobre Krishna
Na verdade, aquele que conhece a ausência de morte não deve ter medo da morte. E que valor pode ter o néctar que não tem medo da morte? Aquele que conhece o segredo da não violência deve deixar de temer a violência? Que não violência é esta que tem medo da violência? E como pode o espírito, a alma temer o corpo e fugir dele? Krishna aceita perfeitamente a dualidade, a dialética da vida, e portanto transcende a dualidade. Aquilo que chamamos de transcendência não é possível enquanto em conflito, enquanto escolhemos uma parte e rejeitamos a outra. A transcendência só é possível quando você aceita ambas as partes, sem escolha, quando você aceita o todo.
É realmente difícil entender Krishna. É fácil entender que um homem deveria fugir do mundo se quiser encontrar a paz, mas é realmente difícil aceitar que seja possível encontrar a paz na agitação deste mundo. É compreensível que um homem seja capaz de alcançar pureza mental se se livrar de seus apegos, mas é realmente difícil dar-se conta de que alguém possa permanecer desvinculado e inocente no meio dos relacionamentos e apegos, de que alguém possa manter-se calmo e ainda vivo no próprio olho do ciclone.
Não há dificuldade em aceitar que a chama de uma vela se mantenha firme e parada em um lugar isolado de ventos e tempestades, mas como acreditar que uma vela continue ardendo regularmente em meio a tempestades e furacões?
De modo que até mesmo para aqueles que se sentem próximos de Krishna é difícil entendê-lo.
Krishna testou, e testou plenamente sua própria força e sua inteligência. Já foi testado e constatado que o homem, como um lótus na água, é capaz de mante-se intocado e desvinculado, mesmo no paroxismo dos relacionamentos. Descobriu-se que o homem pode mante-se no amor e na compaixão mesmo num campo de batalha, que pode continuar a amar com todo o seu ser mesmo empunhando uma espada.
É esse paradoxo que torna difícil entender Krishna. Desse modo, as pessoas que o amam e reverenciam o têm dividido em partes, reverenciando seus diferentes fragmentos, aqueles que apreciam. Ninguém aceita e reverencia Krishna como um todo, ninguém o abraçou em sua inteireza. (...)
Afinal de contas podemos entender alguma coisa em nosso próprio plano, podemos entender alguma coisa em nosso próprio plano, em nosso próprio nível. Não há como entender algo num plano diferente do nosso.
Assim, para a adoração de Krishna, as pessoas escolhem diferentes facetas de sua vida. Talvez não exista ninguém como Krishna, ninguém capaz de aceitar e absorver em si mesmo todas as contradições da vida, todas as contradições aparentemente tão grandes da vida. Dia e noite, verão e inverno, paz e guerra, amor e violência, vida e morte - com ele, tudo anda de mãos dadas. Por isso é que todos que o amam escolheram um aspecto específico da vida de Krishna que mais lhe interessava, discretamente deixando de lado o resto.
A vida de Krishna por outro lado, não aceita limitações. Não é delimitada por regras de comportamento, é ilimitada e vasta. Krishna é livre, infinitamente livre. Não há caminho que não possa percorrer; nenhum ponto onde seus passos possam recear e vacilar, nem limites que ele não possa transcender. E essa liberdade, essa vastidão de Krishna decorre de sua experiência do autoconhecimento.
É o fruto de sua iluminação."
Osho em Encontro com pessoas notáveis.
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