Após o Despertar - Eckhart Tolle


"É uma grande curiosidade entre os buscadores espirituais em saber o que acontece na relação com o mundo exterior quando se chega ao despertar da consciência ou iluminação. Dentro destas bases, certa vez Eckhart Tolle respondeu a seguinte pergunta: 
- Você aponta que seu estado de consciência implicou numa redução de 80% na atividade de sua mente pensante. Isso criou alguma espécie de carência ou algo parecido?

E. Tolle - Bem, não tanto para mim, mas para as pessoas ao meu redor (risos). Isto é certo, pois as pessoas que me conheciam, especialmente a família, pais, alguns amigos, pensaram que algo errado tinha acontecido comigo – isto porque algum tempo após a mudança, eu prossegui com as 
estruturas externas de minha vida. 

Apenas prosseguia como se nada houvesse acontecido, porque ainda havia um ”momentum” e continuei seguindo-o durante três ou quatro anos. Então percebi que estas estruturas externas estavam totalmente fora do alinhamento com meu ser – no mundo acadêmico totalmente dominado pela mente, o ego dominado completamente. 

Então aconteceu um momento em que deixei tudo para trás…

Foi aí que as pessoas pensaram que eu estava realmente louco – abandonado uma promissora carreira acadêmica e indo sentar-se em um banco do parque, sem fazer mais nada. Era bem estranho, porque eu não tinha nenhuma orientação espiritual, ninguém para dizer-me “você não precisa viver no banco do parque, você pode continuar funcionando no mundo. Por uns tempos, o 
estado da presença, do ser, era tão satisfatório, belo e completo que perdi todo o interesse no futuro…quanto mais ter ambição ou viver para adquirir isto ou aquilo. 

Se o momento presente era tão preenchedor, por que precisaria do futuro? Mas naturalmente, no nível prático o futuro ainda opera, e saber disto à vezes ajuda. Você precisa tomar um avião daqui a alguns dias, ou aprender algo que leva certo tempo, aprender uma língua, ou o que quer que seja. Mas, eu não 
mais necessitava do futuro, internamente, e passaram-se anos antes que eu começasse a ser capaz de lidar com o mundo novamente, sem necessitar dele – era quase como uma forma de brincadeira. Iniciar coisas, fazer coisas e, miraculosamente, também um bom tanto de coisas 
vinham a mim…

Mesmo enquanto estava sentado no banco do parque, com quase nada em meu bolso, geralmente no último momento alguma coisa ocorria ou alguém vinha e novamente eu tinha algo com que viver, por enquanto. Milagrosamente isto sempre acontecia, e gradualmente, então, eu comecei a funcionar no mundo de novo.

Devo dizer que duas ou três vezes tentei voltar às estruturas do mundo, sentia que meu tempo no banco do parque estava terminando, então me dizia: “Ok, é melhor eu fazer alguma coisa”. 

Uma vez me candidatei a um emprego, e isto é bem engraçado, um emprego num banco mercantil na cidade de Londres (riso). Durante a entrevista, ouviram-me com interesse, mas não me deram o lugar. Depois candidatei-me a um emprego acadêmico e houve outra entrevista, só que devo ter dito algo, embora tenha evitado usar a linguagem espiritual, mas…havia seis ou sete 
professores ao meu redor e ao final da entrevista um deles me perguntou: 
O que você realmente quer fazer? (riso). 
E na realidade não havia nada que eu realmente quisesse fazer, então esta foi minha última entrevista – eu percebi que na realidade não queria voltar às estruturas do mundo.

Foi então que gradualmente as pessoas vieram e passaram a me fazer perguntas, começando com situações de ensino informal. Algo um pouco mais estruturado surgiu e então eu me tornei um professor espiritual aos olhos do mundo (risada), foi isto que aconteceu. Não ganharia um emprego se colocasse no meu currículo “não mais preciso pensar” , mas realmente é o que acontece. 

O próprio poder de ensinar vem deste estado, da consciência. Não sou eu, e sempre que começo a falar tenho esta sensação de que não tenho nada, absolutamente nada a dizer.

Assim, não é realmente esta pessoa que está fazendo qualquer coisa. Todo ensinamento que tem causado um certo impacto no mundo vem deste estado de não-pensamento, não tem nada a ver com esta pessoa aqui.."

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