O medo da intimidade - Osho


"Já reparou? É mais fácil ser verdadeiro com os estranhos. As pessoas que viajam de comboio começam a falar com estranhos e contam coisas que nunca contaram aos amigos, porque, com um estranho, não se sentem envolvidas. Meia hora mais tarde, chegam ao seu destino e saem; esquecem e o estranho esquecerá tudo aquilo que lhe contaram. Por isso nada do que lhe disseram tem qualquer importância. Não se correm riscos com um estranho.

Ao falar com estranhos, as pessoas são mais verdadeiras e revelam o seu coração. Mas ao falar com os amigos, com os familiares — pai, mãe, mulher, marido, irmão, irmã — há uma profunda inibição inconsciente. 'Não digas isso, ele pode ficar magoado. Não faças isso, ela pode não gostar.
Não te comportes dessa maneira, o pai é velho, pode ficar chocado.' 

Então a pessoa continua a controlar-se. A pouco e pouco, a verdade cai na cave do seu ser e ela torna-se muito esperta e astuciosa com o não verdadeiro.

Continua a fazer falsos sorrisos, que não passam de pinturas nos lábios. Continua a dizer coisas simpáticas, sem qualquer significado. Começa a sentir-se aborrecida com o namorado ou com os pais, mas continua a dizer:

'Estou muito contente por te ver!' Enquanto isso, todo o seu ser diz: 'Agora deixa-me em paz!' 
Mas verbalmente continua a fingir. E os outros também estão a fazer a mesma coisa; ninguém se apercebe de que estamos todos no 
mesmo barco.(...)

Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos.

A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém
se poderá aproveitar das suas fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade.

Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade porque, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem um amante, sem ninguém em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas. (...)

Ninguém sabe nada sobre o futuro. O seu céu, o seu inferno e o seu Deus muito provavelmente não passam de hipóteses, não comprovadas. A única coisa que está nas suas mãos é a sua vida - faça dela a mais interessante possível.

Pela intimidade, pelo amor, por se abrir a muitas pessoas, você se torna mais interessante. E se puder viver um amor profundo, uma amizade verdadeira, uma intimidade generosa, com muitas pessoas, você terá vivido da melhor maneira possível, e onde quer que esteja, se tiver aprendido essa arte, viverá assim ali também, com felicidade.

Se for simples, carinhoso, receptivo, compreensivo, íntimo, você terá criado um paraíso ao seu redor. Se for fechado, constantemente na defensiva, sempre preocupado que alguém possa perceber os seus pensamentos, os seus sonhos, as suas perversões - você estará vivendo no inferno. O inferno está dentro de você, assim como o paraíso. Eles não são lugares geográficos, são espaços
espirituais.

Purifique-se. E a meditação não é nada além de uma limpeza de todo o lixo que se acumulou na sua mente.
Quando a mente estiver em silêncio e o coração batendo, você estará pronto - sem nenhum medo, mas com uma grande alegria - para ser íntimo. E sem intimidade você está sozinho aqui, entre estranhos. Com intimidade você está
cercado de amigos, de pessoas que o amam. 


A intimidade é uma experiência importante. Não se deve esquecer disso."
Osho em Intimidade - como confiar em si mesmo e nos outros.

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