Sobre a dependência psicológica - J. Krishnamurti
Se fizer isso muito profundamente vai descobrir que a maioria de nós é terrivelmente solitária. A maioria de nós tem mentes ocas, vazias. A maioria de nós não sabe o que significa o amor. Então, devido á solidão, a essa insuficiência, à privação da vida, ficamos ligados a algo, ligados à família - dependemos dela. E quando a esposa ou o marido se afasta de nós, sentimos ciúme.
Ciúme não é amor; mas o amor que a sociedade reconhece na maneira de escaparmos de nós mesmos. Assim, toda forma de resistência gera dependência. E uma mente dependente nunca será livre.
Precisamos ser livres, só assim veremos que uma mente livre tem a essência da humildade. Essa mente, que é livre e por isso tem humildade, pode aprender - não é uma mente que resiste.
A aprendizagem é uma coisa extraordinária - aprender, não acumular conhecimento.
Acumular conhecimento é uma coisa completamente diferente.
O que chamamos de conhecimento é comparativamente fácil, porque esse é um movimento do conhecido para o conhecido.
Mas aprender é um movimento do conhecido para o desconhecido - só assim nós aprendemos, não é mesmo? (...)
Por que somos dependentes? Psicologicamente, interiormente dependemos de uma criança, um sistema, uma filosofia. Pedimos a outra pessoa um modo uma conduta. Procuramos professores que nos proporcionem um modo de vida que nos leve a ter alguma esperança, alguma felicidade. Então, estamos sempre buscando algum tipo de dependência, de segurança. É possível a mente se libertar desse senso de dependência? Isso não significa que a mente deva adquirir independência - essa é apenas a reação à dependência.(...)
Quando estamos em um estado de confusão, queremos que alguém nos tire dele. Então, estamos sempre preocupados com a maneira de escapar ou evitar o estado em que estamos. No processo de escapar ou de evitar esse estado em que estamos. No processo de evitar esse estado, nos tornamos propensos a criar algum tipo de dependência, que se torna a nossa autoridade. Se dependemos de outra pessoa para a nossa segurança, para o nosso bem-estar interior, dessa dependência surgem inúmeros problemas, e então tentamos resolvê-los -os problemas da ligação.
Mas nunca questionamos, nunca penetramos no problema da própria dependência. Talvez, se pudéssemos de modo realmente inteligente, com plena consciência, penetrar nesse problema, poderíamos descobrir que a dependência não é absolutamente a questão, é apenas uma maneira de escapar de um fato mais profundo.(...)
Nós sabemos que somos dependentes - do nosso relacionamento com as pessoas, de alguma ideia, ou de um sistema de pensamento. Por quê?
Na verdade eu não acredito que a dependência seja o problema; acho que há um outro fator mais profundo que nos faz dependentes. E se conseguirmos desligá-lo, então tanto a dependência quanto a luta pela liberdade terão muito pouco significado; então, todos os problemas que surgem da dependência irão definhar.
Afinal, qual é a questão mais profunda? É o fato de que a mente detestar e temer a ideia de estar só? Mas a mente conhece esse estado que é evitado? Enquanto essa solidão não for realmente entendida, sentida, penetrada, dissolvida - qualquer termo da sua preferência - enquanto essa sensação de solidão permanecer, a dependência será inevitável, e a pessoa nunca poderá ser livre; nunca poderá descobrir por si mesma aquilo que é verdade, aquilo que é religião."
J. Krishnamurti em O Livro da Vida.
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