Osho fala sobre Buda 4/4
"A ênfase de Gautama Buda na compaixão era um fenômeno novo para os místicos antigos. Gautama Buda estabelece uma histórica linha divisória em relação ao passado; antes dele, bastava a meditação, ninguém dera ênfase à compaixão, paralelamente à meditação. E o motivo era que a meditação traz iluminação, faz o indivíduo desabrochar, expressa a suprema expressão do Ser. De que mais precisamos? No que diz respeito ao indivíduo, a meditação basta. A grandeza de Gautama Buda está em ter introduzido a compaixão antes mesmo que começamos a meditar. Devemos ser mais amorosos, mais bondosos mais compassivos.
Existe uma ciência oculta por trás disso. Antes de se tornar iluminado, se um homem tiver o coração cheio de compaixão, existe a possibilidade de que depois da meditação, venha a ajudar os outros a alcançar a mesma beatitude, as mesmas alturas, a mesma celebração a que teve acesso. Gautama Buda possibilita que a iluminação se torne contagiosa. Mas, se a pessoa sentir que voltou para casa, por que haveria de se preocupar com os outros?
Buda torna a iluminação altruísta pela primeira vez; transforma-a numa responsabilidade social.É uma grande mudança. Mas a compaixão deve ser aprendida antes de ocorrer a iluminação. Se não for aprendida antes, nada haverá a aprender depois da iluminação. Quando alguém entra em êxtase consigo mesmo, até a compaixão parece impedir a sua alegria - é uma espécie de perturbação do seu êxtase.
Por isso é que se tem notícias de centenas de iluminados, mas muito poucos são os mestres. Ser um iluminado não significa necessariamente que a pessoa poderá tornar-se um mestre. Tornar-se um mestre significa que alguém é capaz de enorme compaixão, que se sente envergonhado de se transferir sozinho para os lugares maravilhosos propiciados pela iluminação. O indivíduo quer ajudar as pessoas cegas, na escuridão, tateando no caminho. Ajudá-las torna-se uma alegria, não é uma perturbação.
Na verdade, o êxtase torna-se mais rico quando vemos tantas pessoas desabrochando ao redor; não somos uma árvore solitária que vicejou numa floresta em que não vicejam outras árvores. Quando a floresta inteira viceja conosco, a alegria é multiplicada por mil; usamos nossa iluminação para promover uma revolução no mundo.
Gautama Buda não é apenas um iluminado, mas um revolucionário iluminado. Sua preocupação com o mundo, com as pessoas é imensa. Ele ensinava aos discípulos que quando meditassem e sentissem o silencio, a serenidade, uma alegria profunda borbulhando em seu interior, não se apegassem, oferecendo tudo aquilo ao mundo inteiro. E não devemos nos preocupar, pois quanto mais dermos, mais seremos capazes de conseguir. O gesto de dar é de enorme importância quando sabemos que dar não nos priva de nada; pelo contrário, multiplica nossas experiências. Mas o homem que nunca teve compaixão não conhece o segredo da doação, não conhece o segredo da partilha. (...)
Compaixão significa basicamente aceitar a fragilidade das pessoas, suas fraquezas, sem esperar que se comportem como deuses. Isso é crueldade, pois jamais serão capazes de se comportar como deuses e cairão em sua estima, perdendo igualmente respeito próprio. (...) Um dos elementos fundamentais da compaixão é infundir dignidade em cada um, tornar cada um consciente de que o que aconteceu a você pode acontecer a ele; de que ele não é um caso perdido, não é indigno, de que a iluminação não precisa ser merecida, é da própria natureza de cada um.
Mas estas palavras devem partir do homem iluminado, pois só então podem gerar confiança. Quando partem dos estudiosos não iluminados, elas não geram confiança. Através do homem iluminado, a palavra começa a respirar, começa a ter um batimento cardíaco próprio. Torna-se viva, vai direto ao coração, não é uma ginástica intelectual. Com o erudito, contudo, a coisa é diferente. Ele próprio não está certo daquilo de que fala, do que escreve. Encontra-se na mesma incerteza que você.
Gautama Buda é um dos marcos na evolução da consciência; sua contribuição é grande, incomensurável. E em sua contribuição a ideia da compaixão é a mais essencial. Mas é preciso lembrar que, sendo compassivos, não nos tornamos maiores; caso contrário, tudo vai por água a baixo. A coisa se transforma numa manifestação do ego. É preciso lembrar de não humilhar a outra pessoa ao se mostrar compassivo; caso contrário, não estamos sendo compassivos, por trás das palavras estamos saboreando a humilhação.
A compaixão precisa ser entendida, pois é o amor amadurecido.
A compaixão não se dirige a ninguém. Não é uma forma de relacionamento, mas simplesmente o seu próprio ser. Você se concede o prazer de ser compassivo com as árvores, os pássaros, os animais, os seres humanos, com tudo - incondicionalmente -, sem nada pedir em troca. (...)
As últimas palavras de Gautama Buda na Terra foram: "Seja uma luz para si mesmo. Não siga os outros, não imite, pois a imitação, a decisão de seguir gera estupidez. Você nasceu com enormes possibilidades de inteligência. Nasceu com uma luz em seu interior. Ouça a pequena e tranquila voz dentro de você e isso o guiará. Ninguém mais pode guiá-lo, ninguém mais pode ser um modelo para sua vida, pois você é único. Nunca houve alguém igual a você, e jamais haverá de novo alguém que seja exatamente como você. É essa a sua glória, a sua grandeza - o fato de ser absolutamente insubstituível, o fato de ser simplesmente você mesmo, e ninguém mais."
A pessoa que segue alguém se torna falsa, vira uma pseudo, torna-se mecânica. (...) Seguindo os outros, você pode cultivar belo caráter mas não poderá ter uma bela consciência, e se não tiver uma bela consciência nunca poderá ser livre. Poderá ficar trocando de prisão, poderá trocar constantemente seus grilhões, suas formas de escravidão.(...) Você se tornará uma entidade falsa, perderá toda sinceridade, deixará de ser verdadeiro consigo mesmo.(...)
Buda define a sabedoria como a capacidade de viver à luz de sua própria consciência, e a tolice como a insistência em seguir os outros, imitar os outros, tornar-se uma sombra de alguém.
O verdadeiro mestre cria mestres, e não seguidores. O verdadeiro mestre o devolve de volta a si mesmo. Seu empenho consiste em precisamente em torná-lo independente dele, pois há séculos você tem sido dependente, o que não o levou a lugar nenhum. Continua a tropeçar na escura noite da alma.
Somente sua luz interior pode tornar-se o alvorecer. O falso mestre o convence a segui-lo, a imitá-lo, a ser apenas uma cópia dele. O verdadeiro mestre não permite que você se torne uma cópia, quer que você seja original. Ele o ama! Como poderia levá-lo a ser uma imitação? Ele tem compaixão por você, gostaria que fosse absolutamente livre - livre de qualquer dependência externa.
Mas o ser humano comum não quer ser livre. Quer ser dependente. Quer ser guiado por alguém. Por quê? Porque assim pode jogar a responsabilidade nos ombros de outra pessoa. E, quanto mais alguém joga a responsabilidade nos ombros de outros, menor será a possibilidade de se tornar inteligente um dia. É a responsabilidade, o desafio da responsabilidade, que gera sabedoria.
Temos de aceitar a vida com todos os seus problemas. Precisamos enfrentar a vida desprotegidos; cada um deve buscar seu próprio caminho. A vida é uma oportunidade, um desafio para que nos encontremos. Mas o tolo não quer seguir o caminho mais difícil, o tolo escolhe o atalho. Pensa com seus botões:
"Buda já alcançou, por que haveria de me preocupar? Posso observar seu comportamento e imitá-lo. Jesus já alcançou, por que haveria eu de continuar buscando? Posso simplesmente tornar-me uma sombra de Jesus. Posso simplesmente continuar a segui-lo hoje, aonde quer que ele vá."
Mas como é que, seguindo alguém, você poderá desenvolver sua própria inteligência? Desse modo, não estará dando à sua inteligência qualquer oportunidade de explodir. É necessária uma vida de desafios para que a inteligência se manifeste, uma vida aventurosa, uma vida capaz de arriscar e explorar o desconhecido. Só a inteligência pode salvá-lo, ninguém mais - a sua própria inteligência, naturalmente. A sua própria consciência é que se pode tornar o seu nirvana.
Seja uma luz para si mesmo, e alcançará a sabedoria; permita que outros se tornem líderes ou guias para você, e continuará sendo estúpido, continuará perdendo todos os tesouros da vida - que eram seus!
A vida é uma peregrinação de extraordinária beleza, mas só para aqueles que se dispõem a buscar."
Osho em Encontro com Pessoas Notáveis.
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