Osho fala sobre Buda 2/4
Antes de Buda a meditação era algo que se tinha de fazer uma ou duas vezes por dia, uma hora pela manhã, outra hora à noite, e era tudo.
Buda trouxe uma interpretação completamente nova de todo o processo da meditação. Dizia ele: Esse tipo de meditação não é de grande valia. A meditação não pode ser uma coisa que se faz à parte da vida, apenas por uma hora ou quinze minutos. A meditação deve tornar-se sinônimo de vida; dever ser como a respiração. Não se pode respirar durante uma hora pela manhã e uma hora à noite, caso contrário a noite nem chegaria. Tem de ser como a respiração; mesmo durante o sono, ela continua. (...)
Buda afirma que a meditação deve ser transformada nesse fenômeno constante; só então pode transformar-nos. E ele desenvolveu uma nova técnica de meditação.
Sua maior contribuição para o mundo foi o vipassana.
A própria palavra vipassana em páli, a língua em que se expressava Gautama Buda... ele tinha perfeito conhecimento do sânscrito,a linguagem dos intelectuais, dos brahmins, dos sacerdotes, mas essa não era a linguagem do povo. (...) O páli é uma língua das pessoas simples. Vipassana é uma palavra cujo significado literal é "olhar", e o significado metafórico é "observar, testemunhar". Buda escolheu uma meditação que pode ser considerada a meditação essencial. Todas as outras meditações são diferentes formas de testemunhar, mas o ato de testemunhar é uma parte essencial de todos os tipos de meditação; não pode ser evitado. Buda apagou tudo o mair, mantendo apenas a parte essencial: testemunhar.
Existem três passos no ato de testemunhar - Buda é um pensador científico. Ele começa com o corpo, pois é o mais fácil de testemunhar. É fácil testemunhar minhas mãos se movendo. Posso testemunhar minha caminhada pela estrada, posso testemunhar cada passo à medida que caminho. Posso testemunhar enquanto me alimento. De modo que o primeiro passo no vipassana consiste em testemunhar os movimentos do corpo, e é o passo mais simples.(...) Testemunhando o corpo, você ficará espantado com as novas experiências. Ao mover a mão com atenção e consciência, você percebe uma certa graça e um certo silencio na mão. Também pode fazer o movimento sem testemunhar; ele será mais rápido, mas perderá essa graça. Buda costumava caminhar tão lentamente que muitas vezes lhe perguntavam porque fazia assim. Ele dizia: "Faz parte da minha meditação: caminhar sempre somo se estivesse caminhando num regato frio no inverno...lentamente, com atenção, pois a água está muito fria; conscientemente porque a corrente é muito forte; e testemunhando cada passo, para não escorregar nas pedras e cair."
O método é o mesmo, muda apenas o objetivo a cada passo. O segundo passo consiste em vigiar a mente. Passamos agora a uma esfera mais sutil: vigiar os pensamentos. Se você conseguiu observar seu corpo, não haverá nenhuma dificuldade; Os pensamentos são ondas sutis - ondas eletrônicas, ondas de radio - mas são tão materiais quanto o seu corpo. Não são visíveis, assim como o ar não é visível, mas o ar é tão material quanto as pedras; o mesmo acontece com seus pensamentos, materiais porém invisíveis. É este o segundo passo, o passo intermediário. Você se encaminha para a invisibilidade, mas ainda estamos na esfera da matéria...observando os seus pensamentos. A única condição é não julgar.
Não julgue, pois assim que começa a julgar, você esquece de vigiar, de observar. (...) O motivo de não ser permitido é que assim que começa a julgar - "Eis aqui um bom pensamento" - terá deixado de vigiar esse mesmo espaço. Começou pensar, ficou envolvido. Não foi capaz de manter-se à parte, ficando à beira da estrada para simplesmente contemplar o tráfego. Não se torne um participante, seja avaliando, valorizando ou condenando; não deve ser assumida nenhuma atitude a respeito do que se passa em sua mente. Limite-se a observar seus pensamentos, com se fossem nuvens passando no céu. Você não faz julgamentos a respeito delas; essa nuvem negra é muito má, essa nuvem branca parece um sábio. Nuvens são nuvens, nem boas nem más. O mesmo se dá com os pensamentos: apenas uma pequena onda passando pela sua mente.
Observe sem nenhum julgamento e novamente terá uma grande surpresa. À medida que se instala o processo de observação surgirão cada vez menos pensamentos. (...) Trata-se de uma grande conquista na meditação. Você já tem meio caminho andado, e foi esta a parte mais difícil. Agora, conhece o segredo, e o mesmo segredo precisa apenas ser aplicado a diferentes objetos.
Dos pensamentos, é necessário evoluir para experiências mais sutis - emoções, sentimentos, estados de ânimo. Da mente para o coração com a mesma condição: nada de julgamento, apenas testemunhar. E a surpresa estará em que quase sempre suas emoções, sentimentos e estados de ânimo se apoderam de você ... Quando se sente triste, você se torna triste, é possuído pela tristeza. Quando está zangado, não é um sentimento parcial. Você fica cheio de raiva, cada fibra do seu ser pulsa com essa raiva. Observando o coração, a experiência será constatar que já agora nada o possui. A tristeza vem e vai; você não se torna triste. A alegria vem e vai; você tampouco se torna alegra. O que quer que se mexa nas camadas mais profundas do seu coração, não chegará a afetá-lo. Pela primeira vez você saboreia algo próximo do domínio de si. Já não é um escravo empurrado daqui e dali, deixando-se perturbar, ao menor motivo pelas emoções, os sentimentos ou as outras pessoas.
Ao tornar-se uma testemunha da terceira etapa, você também se tornará pela primeira vez um mestre: nada o perturba, nada o subjuga, tudo se mantém a distância, bem lá no embaixo, e você está no topo da colina.
Quando assumir a perfeita capacidade de observação do seu corpo, da sua mente e do seu coração, você nada mais poderá fazer, terá de esperar. Quando a perfeição for alcançada nessas três etapas, a quarta virá por sua própria conta, como recompensa. É um saldo qualitativo do coração para o Ser, bem no centro da sua vida.
Não cabe a você dar o salto: ele simplesmente acontece - é preciso ter isso em mente. Não tente forçar, pois se tentar dar esse salto, o fracasso é absolutamente certo. É um acontecimento. Você trabalha nas três primeiras etapas, mas a quarta é uma recompensa da própria vida, um salto qualitativo. De repente, a sua força vital, a sua capacidade de observar se instalam no próprio cerne do seu ser. Você voltou para casa.
Pode der a isso o nome de autorrealização, iluminação, suprema libertação, mas nada existe além. Você chegou ao fim de sua busca, encontrou a verdade da existência e o grande êxtase que ela traz em sua sombra, ao seu redor."
[continua...]
Osho em Encontro com pessoas notáveis
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