Experiências e identificação - Ramesh


Participante : Você sempre nos pergunta, "Quem está preso?" "Quem é o buscador?" Eu quero lhe fazer a mesma pergunta.

Ramesh - É o individuo ou a consciência pessoal que está buscando a sua fonte.
Consciência se identificou com um "eu" pessoal, e agora está tentando recuperar a sua impessoalidade. É só isso que está acontecendo. E o processo começa mais rápido quando a mente não interfere, quando o "eu" não está presente, somente o EU, o subjetivo, é presente. 
O sábio Ashtavakra nos diz o que é identificação e o que é liberação.
Ele diz: " Identificação é quando a mente deseja algo ou se magoa com algo. Liberação é quando a mente não deseja e não mais se magoa, não aceita nem rejeita, não se sente feliz nem infeliz."

A mente humana, treinada e condicionada como está, prontamente diz: " Eu não desejo nada. Eu não rejeito nada." Mas a mente é incapaz de realizar que este "não desejar nada" inclui desejo de conhecimento da sua própria natureza. Desejo não significa apenas desejo de algum objeto, mas mesmo o desejo de Iluminação. A necessidade de saber, de conhecer a sua própria natureza, mesmo isso é desejo, e este desejo é pelo o "eu".

Mágoas são quando a mente deseja alguma coisa ou se entristece com algo. A mente deseja a Iluminação e se entristece com o fato de ainda não ser iluminada. "Tenho estado aqui por dez, doze, vinte e cinco aos e ainda não aconteceu!" A mente se entristece com esse "não aconteceu". 
A mente deseja, ou quer que alguma coisa aconteça e fica magoada quando isso não acontece.

Liberação é quando a mente não quer, não deseja, ou se magoa; é quando a mente é vazia, quando a mente é aberta. 
A mente vazia não é a mente de um idiota, é uma mente aberta, porém plenamente alerta, já que não deseja nada e não está fixada a nada. A casa está vazia. A mente é espaço. Ela não rejeita ou aceita, não se sente feliz ou infeliz.

Ashatavakra também diz: "Identificação é quando a mente está presa a alguma experiência sensorial. Liberação é quando a mente é livre de todas as experiências sensoriais."
Aqui ele também nos mostra de uma maneira sutil. Ele não se humilha para explicar. O sábio quer que o suposto candidato encontre por si mesmo. Ele não diz que a experiência sensorial não acontecerá ou qualquer outro tipo de experiência. O surgimento de qualquer experiência, ou evento, é totalmente fora do controle do mecanismo corpo-mente, tenha a iluminação se dado ou não. Logo, não é o sábio que rejeita qualquer experiência, ou não. A experiência sensorial é experienciada, mas a mente não se fixa a essa experiência. A experiência vem e também se vai. Toda experiência, seja boa ou ruim, prazerosa ou não se dá apenas no momento presente. Toda experiência é uma experiência impessoal. A experiência impessoal perde a sua impessoalidade quando a mente-intelecto aceita essa experiência como sua própria ou a rejeita como sendo boa ou ruim. Se for agradável, ela quer que essa experiência se torne frequente. Se for ruim, ela a rejeita e não a quer mais. Logo, a identificação a uma experiência é sempre por um tempo determinado. A experiência impessoal, que é a experiência do sábio, é sempre no momento presente, e quando essa experiência se vai, a mente não pensa mais nisso. A mente é totalmente liberta. A experiência é vista como uma experiência impessoal e nesse momento ela termina. Isso é liberação, quando a mente é desidentificada de todas as experiências.

Por fim Ashtavakra diz: " Quando o "eu" está presente existe identificação. Quando o "eu" não está presente, é liberação. Saber isso, significa permanecer aberto a tudo o que a vida trouxer, sem aceitação ou rejeição."
Ramesh Balsekar em Counsciousness Speaks

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